terça-feira, 21 de abril de 2015

CARTA ABERTA AO SR. AÉCIO SILVÉRIO NEVES, SENADOR DA REPÚBLICA



CARTA ABERTA AO SR. AÉCIO SILVÉRIO NEVES,
SENADOR DA REPÚBLICA*


Exmo. Sr. Aécio Neves
Hoje comemoramos o Dia da Inconfidência Mineira, por extensão, o dia de Tiradentes e, estendendo mais, o dia da traição, a de Joaquim Silvério dos Reis.
Dia de também lembrarmos do falecimento do seu avô, Dr. Tancredo Neves, completando trinta anos hoje.
Nascido de família rica, latifundiária, bem situada na política brasileira, graças ao seu avô e ao seu próprio pai, o Sr. deveria ter tido a preocupação de se preparar para herdar o patrimônio físico e político da família mas, ao invés, a custa de gorda mesada da família, veio para o Rio de Janeiro, surfar e aprontar arruaças, como os boletins policiais da época atestam, envolvido com drogas, badernas, brigas.
Na capital política e cultural do país, em nenhum momento o seu nome apareceu ligado a qualquer movimento consequente, seja na música, na literatura ou na política, em período de resistência à tirania, onde parcela dos jovens da sua faixa etária resistiram.
Como se vê, a sua juventude foi inútil, a de um inútil, com a trajetória da inutilidade interrompida por uma fatalidade, a morte do seu avô, primeiro degrau do seu oportunismo político.
Seu avô, típico conservador mineiro, tinha um atributo precioso, do qual Vossa Excelência é a negação: era patriota, nacionalista, brasileiro.
Seu avô foi Ministro da Justiça de Getúlio Vargas e com ele construiu a Petrobras, que Vossa Excelência quer destruir. Junto com Getúlio construiu a Companhia Vale do Rio Doce, que o seu partido, com o seu apoio, vendeu a preço vil.
Quando as forças do capital, as mesmas de hoje, conservadoras, internacionalistas, de viés fascista, se levantaram contra o nacionalismo de Getúlio, seu avô foi um dos mais fiéis defensores do velhinho, ao lado dele permanecendo até a morte.
O discurso da direita? Corrupção!
Morto Getúlio, fez-se necessário continuar com o seu legado, não abrindo espaço para a direita, e seu avô foi um dos principais articuladores da candidatura Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que se notabilizou por uma política voltada para o país, com a direita tentando golpeá-lo de todas as maneiras, com o seu avô presidindo o Banco do Brasil, viabilizando financiamentos para a construção de Brasília.
O discurso da direita? Corrupção!
Jânio renunciou e a direita não quis dar posse ao seu vice, João Goulart, porque Jango significava o retorno do nacionalismo ao poder, do comprometimento com o país e o seu povo.
Pra limitar os poderes de Jango, a direita propôs o parlamentarismo e a esquerda recusou, quase precipitando o golpe militar, antecipando-o em três anos, e surgiu a figura de seu avô, novamente, convencendo Jango a aceitar, para derrubar depois.
Aprovado o parlamentarismo, apareceu a necessidade de um nome de conciliação, que fosse moderado, conservador, mas identificado com as causas populares, nacionalistas, e acima de tudo fiel a Jango, capaz de lutar para implementar as Reformas de Base, e surgiu o nome do seu avô.
Veio a campanha para acabar com o parlamentarismo e lá estava o seu avô ao lado do melhor para o Brasil, o melhor para o povo brasileiro, combatendo o parlamentarismo, para contrariedade da direita.
E caiu o parlamentarismo e ressurgiu o discurso golpista da direita, com o seu avô rebatendo, resistindo ao golpe, bravamente, até que ele veio.
O discurso da direita, a justificativa? Corrupção!
Foram vinte e um anos de entrega do patrimônio nacional, de torturas, exílios, censuras e mortes, com a oposição do seu avô.
Veio a campanha das Diretas Já e entre os mais inflamados e respeitados oradores, o seu avô, exigindo a devolução do poder ao povo.
A lei das diretas não passou e novamente foi necessário se encontrar um nome confiável, conservador o bastante para acalmar os militares, mas nacionalista o bastante para mudar os rumos da conjuntura, adversa, cruel, desumana, para vencer Paulo Maluf, o corrupto e ditatorial candidato do sistema, dos militares, e novamente o nome do seu avô apareceu.
Foi eleito, para regozijo dos democratas, dos patriotas, dos nacionalistas, mas não foi empossado. A morte, cruel e devastadora, é de direita.
E aí surgiu Vossa Excelência, neto mais velho do ancião moribundo, tornando-se o porta voz da família.
A até então obscura nulidade, à custa do sofrimento de um ídolo nacional, ganhou os refletores da mídia e viu reconhecido o seu sobrenome, trampolins para o início da carreira política pessoal.
Isto, excelência os alicerces da sua carreira política estão assentados sobre um cadáver, o do seu avô, e não mais.
Morto o seu avô, iniciou-se um novo ciclo da direita no poder, que durou dezoito anos, até a eleição de um operário, negação de toda a história nacional, devolvendo o país ao seu rumo de direito, assentado no nacionalismo, no patriotismo, na defesa do povo.
Contrariando o exemplo de família e o determinismo genético, desde o primeiro momento Vossa Excelência se posicionou frontalmente contra esse governo, assumindo exatamente a mesma posição dos adversários do seu avô, dos inimigos do seu avô, dos algozes do seu avô.
Hoje ensaia-se novo golpe da direita, exatamente como o que levou Getúlio ao suicídio, exatamente como o que instituiu o militarismo, os bem sucedidos, exatamente como tentaram com Juscelino e, absurdamente o principal porta voz dos interessados nesse golpe é Vossa Excelência, o mais agressivo.
O seu discurso? Corrupção!
Seu avô teve um inimigo pessoal, agressivo porta voz das forças conservadoras, Carlos Lacerda, eixo do golpismo que se iniciou na era Vargas e culminou no golpe de 64, para morrer com a eleição do seu avô.
Agora ressurgiu, reencarnado no seu partido, uma UDN travestida de PSDB, combatendo tudo o que cheira a nacionalismo, patriotismo, política popular, com Vossa Excelência à frente.
É certo que o senhor espera que eu o compare a Carlos Lacerda, mas não posso fazê-lo porque, mesmo nos adversários e inimigos, o meu intelecto me obriga ao reconhecimento das virtudes.
Falta-lhe, Sr. Aécio Neves, a oratória de Lacerda, a eloquência de Lacerda, a redação perfeita e enxuta de Lacerda, a cultura universal, fruto de muita leitura, de Lacerda, a coerência, ainda que equivocada, de Lacerda, o intelecto de Lacerda.
Carlos Lacerda fez o próprio nome, enquanto o Sr. herdou, vivendo politicamente dele.
Isto, Senador, não fosse o seu sobrenome, do qual vive na sombra, e Aécio não existiria, porque ainda hoje a mesma nulidade intelectual da juventude.
Por isso não o comparo a Lacerda.
Eu poderia compará-lo a Joaquim Silvério dos Reis, o verdadeiro verdugo de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, mas também não o faço.
Não faço porque entre Tiradentes e Silvério não havia laços de consanguinidade, exigência de respeito à memória, como há entre Vossa Excelência e o seu avô, Dr. Tancredo Neves, e aqui o sr. se avulta, se agiganta, para ser um traidor maior que Lacerda, muito maior que Joaquim Silvério dos Reis.
Resta-nos o consolo que a história é impiedosa: seu avô veio de baixo e morreu lá em cima, enquanto Vossa Excelência, que começou onde ele terminou, terminará a nulidade que nunca deixou de ser.
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 O texto que eu queria ter escrito! Ufa! Até que em fim alguém o fez! Fantástico! Eu sempre disse que o meu admirável Trancredo Neves se revirava no túmulo com as aprontações políticas do seu neto amado, e que nos envergonha a todos os mineiros!   >EuniceT*
















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