Eu, menina |
Na meninice, não damos importancia a certos detalhes
sociais, politicos etc., mas não deixamos escapar outros tão importantes
quantos os citados, visto que são coisas do coração infante, que somente
na madureza da vida temos condições de aquilatar.
Assim está registrada na minha memoria as lembranças do Sr. Calimério que
conforme já citei noutro tópico, esteve presente na minha infancia, como a um
ícone, um tanto distante, visto não o ter conhecido pessoalmente, mas que de
uma forma especial, fez parte das lembranças que guardo.
Sr. Calimério |
Ao deparar com este artigo, caras
recordações me sopitaram a alma, e as transcrevo para este blog na sua
íntegra em forma de homenagem a um homem que marcou-me a infancia de forma
muito especial, com sua bondade e generosidade ímpares.
Lateral externas da chácara |
Claro que naquele tempo, não fazia idéia de quem era de fato o “Seu Calimério”,para nós, meninos arteiros e aventureiros, era apenas o dono da chácara onde volta e meia íamos pegar laranjas, doces laranjas que compensava o castigo que recebíamos de mamãe, e a vigorosa reprimenda seguida de castigos de nosso pai, que não admitia que se bulisse nas coisas alheias sem o consentimento do dono, e da fazenda onde íamos buscar as frutas da época.
Adonai C. Terra-"In Memórium" |
Fizemos eu e meu irmão Adonai,
algumas incursões, mas logo compreendemos que deveríamos seguir os conselhos de
nossos pais. Eu gostava mesmo era de perambular pelo serrado ao longo da cerca
de arame farpado que delimitava a chácara do "Seu Calimerio".
A Cruz
|
Tinha uma grande curiosidade pela
velha e abandonada cruz sem nome e apenas o ano 1940, grafado com
desbotada tinta; Ninguém sabia por quem foi erguida, mas ela era ponto de
referencia de nossas andanças, (antes da cruz, depois da cruz),e certa vez
descobrimos que um bebê rescem nascido havia sido enterrado aos seus
pés.
Foi o nosso cachorro, o Joli, que
ficou maluco quando percebeu o pequeno embrulho, colocado à flor da terra numa
cova rasa, e que outro cão já havia remexido. Ficamos muito
assustados e fomos logo contar em casa.
Foto do conterrano Glaucio Henrique |
Recebemos orientação para não bulir, e
respeitar, porque certamente haveria de ser um bebê nascido antes do tempo e
filho de pais desorientados, que optaram por aquela forma de enterro.
Obedecemos. Mas o rostinho daquela criança ainda está na minha memória, assim
como o mistério que guardava o cruzeiro, ou "a cruz", como dizíamos
Fazia isso pela manhã,mal o
sol despontava, quando gostava de caminhar pelo serrado numa deliciosa e
perfumada aventura, pelos capins ainda molhados pelo orvalho da
madrugada,conferindo as flores que desabrocharam, os frutos que despontavam e
ver aquele inigualável céu azul; meu irmão tinha outras razões, como descobrir
pegadas de onça parda ou lobos guarás , tatus, ninhos de imbú que chamavamos de
"nhambú", ,
e cujos ovos as vezes eram azuis,
que me assustava sempre com seu voo repentino(quando levantam voo, soltam um
agudo silvo)cuja função é distrair a atenção do invasor para longe do ninho ,
os lobos as jaguatiricas e onças sempre apareciam por ali, em busca dos
animais da chácara.
Uma vez deparamos com um lôbo morto
pelos funcionários da chácara provavelmente com intuito de defender as
criações.
Durante dias passamos a
monitorar o trabalho dos urubus,(foi
interessante observar a hierarquia das aves,a disciplina e o respeito ao
chefe do bando chamado de urubu
rei), aguardando que terminassem de limpar os ossos, pois os recolheriamos como
trofeis (ouvíramos alguém dizer que com ossos e unhas de lobos podia-se fazer
patuás protetores, e das unhas fazía-se patuas para criancinhas não sofrerem
durante o rompimento dos dentinhos de leite; um dos meus irmãos usou um, feito
com uma unha desse lobo, até nascer-lhes todas as prezas, sei lá se dava ou deu
resultado, mas essas são as minhas lembrnaças.)
Doutra vez, o sr. Calimério, ele
mesmo em pessoa, passou pela nossa porta com uma onça parda na carroceria de
uma caminhote, que haviam capturado dentro da chácara pegando suas criações.
Creio que a levou para algum Zoo, pois a bichinha estava viva e bem.Hoje
são protegidas e monitoradas pela CCBE.
Creio também, que esta foi a única
oportunidade que tive de vê-lo pessoalmente, mas a onça roubou a cena.
Sabedor de que na casa do
"Seu". Isaias tinha muitos meninos, e que costumávamos excursionar em
torno da sua propriedade, parou à nossa porta para que pudéssemos
apreciar o animal, e tomar tento do risco que corríamos aventurando por aqueles
matos. Rs!E nós acreditando que ele não sabia de nós!
Me lembro perfeitamente do animal
assustado dentro da caminhonete azul e branca como a da foto, e vagamente das
duas pessoas dentro da gabine.
Mas não pense que isto terminou com
nossas aventuras por ali não; pelo contrário, passamos foi a montar pequenas
armadilhas, para marcar as passagens dos felinos durante as noites, o que íamos
conferir pelas manhãs.
Era uma aventura nova a cada dia.
Mamãe |
Acho que nossos anjos de guarda ficaram de cabecinhas brancas muito antes que nossos pais.Não tínhamos, não conhecíamos medo.
Penso que isto era devido a herança
a indigena de mamãe.
Éramos de fato bichos do mato, lugar
onde nos sentíamos livres e ao mesmo tempo em casa; sempre curiosos e
aventureiros. Meus filhos e sobrinhos hoje não fazem idéia do que seja
crescer assim, livres e viver de aventura em aventura; Este é um dos
motivos que me levou a registrar minhas memórias; Nossos filhos crescem presos
dentro de casa,condominios, grades, longe da natureza,onde as maiores
aventuras são as virtuais.
Outras duas cenas que tiveram
lugar proximo a chácara do "Seu Calimério" foram primeiro eu
ter passado por cima de uma cobra, sem perceber; ela atravessava o
‘trieiro’(caminho formado pela frequente passagem de pessoas), e eu passei
por ela sem perturbá-la, só dando conta após meu irmão “Sizo”, me chamar
a atenção, pois que vinha logo após mim.
Foi engraçada a sensação; voltei-me
e fiquei olhando a cobra de metro e meio, fazer a travessia no sentido
do quintal da chacara, depois seguimos adiante.
Devo lembrar, que esta se localizava, do lado oposto a avenida Melo
Viana, que naquela época era estrada de terra batida, sem nenhuma pavimentação,
depois da Marcenaria do sr. Marcelo Menegueli, pai do Renan e do Luis
Paulo, meus colegas de escola, no ensino fundamental), bem uns duzentos
metros do cruzeiro que havia ali. E depois da casa do sr. José
“Foieiro"(na verdade era um artesão funileiro que trabalhava com folhas de
flandres, com que fazia bacias para todo tipo de uso , inclusive banhos
Todas as casas tinhamum exemplar, e esta servia tanto no giral
de lavar roupas, quanto no quarto de banho, na higiene da familia. Quem
tinha banheiro nos moldes dos de hoje, chamaós de "privada patente" e
patente era o vaso sanitário.
Tachos de latas muito
usados nas cozinhas para lavar "trendicuzinha", louças, canecas
,regadores para molhar plantas,
bules, lamparinas e fazia um tacho
de cobre martelado, como nunca mais vi, e me disse certa vez, ter aprendido a
técnica comum cigano que conheceu do qual se tornou amigo, ainda guardo a
miniatura de tacho de cobre, com que me presenteou na minha última visita
a Araguari no ano de 1988 e a dona Maria Machado, pais de Terezinha
e Maria José, e mais um monte de filhos. Maria José foi uma belissima moça e
veio a ser Miss na cidade de Goiania anos depois.
Voltemos ao assunto: Bom
caminhava-se sempre no sentido norte oposto ao centro da cidade, pela rua
Goias, onde morávamos um quarteirão depois da EPG Antonio Nunes de
Carvalho Filho, atravessava-se a avenida, e estava numa área aberta, das
minhas aventuras juntamente com meus irmãos.
Outra situação ocorrida ali, que me
marcou, foi um pequeno acidente onde quase matei meu irmãozinho Sizo, que era
franzino e me acompanhava quando fui buscar tocos e gravetos para o fogão de
lenha de mamãe; Ela tinha o a gáz, mas uzava o de lenha, e eu era encarregada
de abastecer o pequeno depósito, com tocos (resultado das destocagens no
serrado,creio eu hoje, que para limpar a área em torno da chácara,Esses tocos,
eram bons para fazer brasas, e os gravetos no que eu era especialista em
encontrá-los bem sequinhos e de pé, mesmo depois de vários dias de chuva.
Costumava levar um machado, para desenterrar raizes seme enterradas, e a
técnica era dar com o ‘olho’ do machado na cabeça do toco até deslocá-lo, pra
puxar.
Quando levantei e armei machado, estirando-o para traz, acertei a
testa do meu irmãozinho. Pensei tê-lo morto. Muito chocada, coloquei-o dentro
do carrinho de mão e corri como nunca havia feito, até chegar com ele em casa, e
aí foi a vez de quase matar mamãe de susto, mas tão logo minha irmã Cleide lavou
o ferimento, vimos que tudo não passava de um enorme galo, e um pequeno corte
de uns dois centimetro. Mas o tamanho da minha culpa não pode ser medido.
Durante anos pedi perdão ao meu irmão, por ter-lhe ferido. Já havíamos tido
contato com reduto do Sr.Calimério, quando morávamos no bairro do Moinho de
Ossos, e íamos lá pras banda do Clube do Pica-Pau, buscar frutas, deliciosas
frutas de época e na época em que o sr. Tobias era o administrador, de uma
das fazendas do sr. Calimério.
Viu quantas lembranças
me veem a tona ao simples fato de lembrar do sr. Calimério?
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3 comentários:
Bonita homenagem!!Passando para conhecer e seguir as amigas do Blogueiras Unidas que também participo!!Bjsss
http://rumoslibertadores.blogspot.com – 494
http://zildasantiago.blogspot.com - 493
http:carinhossorteiosetcetal.blogspot.com – 955
Oi amiga querida!
Linda homenagem!!Lembranças de infância muito bem descritas.
Adorei ler tuas aventuras!
Beijocas!
Oi Flor... Vim visitar o seu cantinho. Sou do Grupo Blogueiras Unidas (número 1644). Já estou seguindo. Me segue também?
Alquimia dos Romances
http://www.alquimiadosromances.com.br/
BJs e obrigada pela força...
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