sábado, 24 de março de 2012

Despedindo de Chico Anisio



INVISÍVEIS, MAS NÃO AUSENTES


Quando morreu, no século XIX, Victor Hugo arrastou nada menos que dois milhões de acompanhantes em seu cortejo fúnebre, em plena Paris. 

Lutador das causas sociais, defensor dos oprimidos, divulgador do ensino e da educação, o genial literato deixou textos inéditos que, por sua vontade, somente foram publicados após a sua morte. 

Um deles fala exatamente do homem e da imortalidade e se traduz mais ou menos nas seguintes palavras: 

"A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba, e a alma começa. 

"Que digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto. Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo? 

"Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser. O que constitui o meu eu, irá além. 

"O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra, coloca o pé em todas as saliências e sobe até ao respiradouro. 

"Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspira o ar livre, vê a luz. 

"Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída? 

"Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo, de que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro? 

"A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo. É por demais pesado para esta terra. 

"O mundo luminoso é o mundo invisível. O mundo do luminoso é o que não vemos. Os nossos olhos carnais só vêem a noite. 

"A morte é uma mudança de vestimenta. A alma, que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz. 

"Na morte o homem fica sendo imortal. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela. 

"A morte é uma continuação. Para além das sombras, estendes-se o brilho da eternidade. 

"As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz, aproximam-se cada vez mais e mais de Deus. 

"O ponto de reunião é no infinito. 

"Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem. 

"Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito." 

.................... 

Muitos consideram que o falecimento de uma pessoa amada é verdadeira desgraça, quando, em verdade, morrer não é finar-se nem consumir-se, mas libertar-se. 

Assim, diante dos que partiram na direção da morte, assuma o compromisso de preparar-se para o reencontro com eles na vida espiritual. 

Prossegue em sua jornada na terra sem adiar as realizações superiores que lhe competem, pois elas serão valiosas, quando você fizer a grande viagem, rumo à madrugada clarificadora da eternidadE. 
    Ícone do Humor Brasileiro, deixou-nos hoje (23/03/2012)

"O meu programa durante 35 anos esteve semanalmente no ar e era absolutamente crítica social. Eu sempre defendi o pobre, o preto, o nordestino, o retirante, o mendigo, o preso, o esfarrapado. Então, rico, nos meus programas, sempre fez papéis ridículos, nunca fiz um rico que se desse bem no meu programa. Era uma maneira de dar um sonho, que fosse, para o povão que vê o programa." - no "Roda Viva", em 22 de junho de 1993

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"Uma decisão que eu tomei no começo da minha vida, quando eu vi que eu não podia ter a categoria do Walter D'Ávila, a graça do Oscarito e tal, falei 'eu tenho que escolher um caminho para mim senão me perco'. Então me determinei isso: 'Eu vou ser aquele que faz vários'. No programa que eu criei, que é o 'Chico Anysio Show', criado por mim e pelo [Carlos] Manga, eu fazia todos os personagens. Era a primeira vez no mundo que havia um programa desses." - no "Roda Viva", em 22 de junho de 1993

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"Quando levei a Zélia [Cardoso de Mello, ex-ministra da economia e, depois, sua mulher] na 'Escolinha', eu levei para me redimir de uma crítica que eu vinha fazendo sistematicamente a ela [com a personagem Célia Caridosa de Mello, interpretada por Nádia Maria, que tinha o bordão 'o povo é só um detalhe'] porque no dia em que ela saiu houve uma comemoração por parte dos americanos e da elite brasileira, então digo que ela estava certa, e eu malhando." - no "Roda Viva", em 22 de junho de 1993

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"Eu digo sempre que, se eu fosse viver outra vez, eu faria tudo como fiz, apesar de ter feito muita bobagem na vida, mas não fumaria mais. É a única coisa de que me arrependo, e me arrependo muito." - no programa "Conexão", do radialista Elias Teixeira, em 2007

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"Em 1948, Haroldo Barbosa, Antônio Maria, Jota Ruy, eu e outros combinamos que o nosso humor, o humor brasileiro, seria o de quadros e personagens que se repetem semanalmente. Não é novo nem velho. É o humor que existe. Ele não tem que ser julgado por ser novo ou velho, mas por ser bom ou ruim." - nareportagem, em 25 de março de 2007

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"Mesmo quando sofri uma punição severa [da Rede Globo] por uma crítica mal entendida, minha relação continuou muito boa. Vejo a Globo como um prolongamento da minha casa. Tomo conta dela o quanto é possível." - na "IstoÉ Gente", em 30/4/07

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"Não vejo TV aberta, porque tenho proibição contratual de não poder comentar sobre outros programas. Então, para não me ver tentado a fazer comentário, não vejo TV. Mas digo uma coisa: não existe humor novo. Existe humor engraçado e sem graça. O humor novo é uma bobagem. Se os Três Patetas aparecessem hoje, eles seriam engraçadíssimos." - na Folha, em 22/3/09

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"A Globo está cheia de jovens, algo que nasceu de uma frase do Daniel Filho quando ocupou por algum tempo o lugar do Boni: 'A Globo precisa se `juvenilizar''. Levaram o Daniel a sério e isso tem sido uma tortura para quem tem mais de 50 anos." - post em seu blog (bloglog.globo.com/chicoanysio), em 5/8/09

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"Não tenho raiva nenhuma da Globo. Eu sou global, e sempre serei o mesmo ator global, desde 1969. 'Chico Anysio Show' esteve 39 anos no ar, mudando de título, mas, no fundo, a mesma coisa: meus tipos e eu - uma fórmula que, graças a são Francisco de Assis, sempre deu certo." - último post em seu blog, em 27/11/10

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"De 1957, quando entrei na televisão, até 2002, quando extinguiram meus programas [a 'Escolinha do Professor Raimundo' saiu do ar em dezembro de 2001], sempre fui líder de audiência. Não sabia o que tinha feito de errado. Passei dias pensando em todos os diretores da Globo, um por um, para tentar chegar a quem teria me boicotado. Também pensei que os irmãos Marinho não gostavam de mim. Se o pai deles estivesse vivo, eu não teria saído do ar." - na "Veja", em julho de 2011

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"Sempre achei que a Globo me daria um cargo de supervisor de seu humor. Não aconteceu. O diretor que exerce a função que eu almejava é o Guel Arraes. Não tenho queixas dele, mas acho que seu humor não é popular como deveria ser." - na "Veja", em julho de 2011

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"Família é problema. Essa é a dolorosa verdade. As pessoas esperam, no mínimo, solidariedade da família. E ela não dá isso, só cobra. Tenho nove filhos, contando com um enteado e um adotado. Mas acho que só cinco saíram a mim. Os outros quatro saíram às mães. Com os que saíram a mim, tenho contato direto. Com os outros, quase nem falo. É melancólico." - na "Veja", em julho de 2011

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"O humor é irmão da poesia, o humor é quem denuncia. Eu não tenho a possibilidade de consertar nada, mas eu tenho a obrigação de denunciar tudo, porque essa é a obrigação primeira do humorista. O humor é tudo, até engraçado." - no "Fantástico", em 28/8/2011

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"No teatro, você pode ser todo dia a mesma coisa, porque a plateia muda. Na televisão é o oposto, você tem de mudar, porque a plateia é a mesma. E essa plateia é exigente, mas ela recompensa a gente" - no "Fantástico", 2011


 Obriga Chico Anisio por cada risada!
Não há melhor homenágem a memória de um homem que ter apreciado o seu trabalho enquanto cá esteve conosco!

Fique Bem!



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