Flores do Inverno-

São flores muito especiais, que apesar dos muitos outonos vividos, verões e primaveras, apesar dos pés cansados,das pernas alquebradas que mal sustentam o peso dos corpos, dos cabelos brancos,  ralos e sem brilho,das vozes balbuciadas por vezes quase ininteligíveis por ausência dos dentes; sabem como ninguém expressar carinhos, gratidão e generosidades  tempo todo.

Exatamente por isso, me dói profundamente perceber aquela lágrima que  queda do canto dos olhos silenciosos e tristes, de repente, a banhar aquelas faces plissadas pelas rugas da pela cansada, envelhecida de (Rosa de  Sharon.), na noite de hoje. O que a provocou, não saberei, mas posso adivinhar mil razões.

Aquele lindo rostinho, que nos faz adivinhar uma linda mulher no passado, sempre sorrindo, iluminado por uma alegria que  se recusa  a envelhecer, trazendo sempre uma marotagem juvenil, que me faz perceber a mulher alegre, vivaz e positiva permanece presente no corpo de  quase um século de vida.

Rosa de Sharon, como a chamarei aqui, sabe como poucos expressar ternura e um amor puro pela vida e para com a vida, repetindo frequentemente esta frase: "ainda bem que no final deu tudo certo!".

Ainda mantem a robustez e rigidez do seu corpo de quase 1.80 m de altura, encurvado sob o peso dos anos, e as sequelas do acidente que a deixou inválida, cicatriz que não a deixa esquecer o ocorrido, pelas frequentes dores.

Seus olhinhos meigos, de olhar carinhoso, me comove quando pelas madrugadas lhe acordo, para urinar, levando-a até o banheiro, com o seu andar lento auxiliado pelo seu agora inseparável andador; tanta dificuldade, mas que no final, quando finalmente novamente  a acomodo no leito, ganho beijos e palavras de  agradecimento, de gratidão pura e sincera. Me faz lembrar a "HUMILDADE DOS SANTOS'.

É duro envelhecer! é doloroso perceber que via de regra na nossa sociedade, nos transformamos com os anos em inúteis trambolhos para nossos descendentes, que  cheios de pressa, não tem tempo para seus velhos!

Se livram da nossa incomoda caduquice, da nossa debilidade, nossa incontinência urinária, nossa demência, nosso Alzaimer, instalando-nos numa casa de  repouso, quando não nos internam

 num fedorento asilo de velhos, cujos administradores estão mais interessados  nas nossas miseráveis pensões de aposentadoria; quando a temos; caso contrário nem é bom pensar.

Tudo aquilo que fomos, vivemos e compartilhamos com nossos descendentes, se transformou em transtorno e desconforto para eles, que sentem pressa em si livrar de nós, os trambolhos aguardando a morte.

Raros são os filhos e netos que nos amam, com respeito e gratidão expressados nas suas atitudes  de acolhimento , proteção e carinhos, permitindo-nos, permanecer junto a eles até o final de nossa jornada humana, até o findar de nossos dias!

Já dizia o cancioneiro, que "Um pai (mãe)cria dez filhos, e dez filhos não cuida de um pai.(mãe).

Quantos que  perante as mais indescritíveis adversidades da vida, a tudo enfrentam numa luta desigual, para manter seus filhos juntos, sob a sua proteção, até que se tornem" homens"suficientemente grandes e fortes, pra seguirem sozinhos seus próprios caminhos?