Nathalia Pontes retorna à prisão |
Ao longo dos séculos, e até há bem poucos anos, as crianças eram consideradas seres de menor importância. Era de aceitação comum na sociedade o abandono, a negligência, o sacrifício e a violência contra crianças, chegando ao filicídio, declarado ou velado, que levava as taxas de mortalidade infantil, na França do século XVIII, a níveis absurdos, inacreditáveis, de sempre mais de 25% das crianças nascidas vivas.
Hoje, em muitos países, para cada mil crianças nascidas vivas, morrem menos de dez, antes de um ano de vida.
Segundo Elisabeth Badinter, em Um amor conquistado - O mito do amor materno, na França daquela época raramente uma criança era amamentada ao seio da mãe. Morriam como moscas.
Cerca de 2/3 delas morriam junto às amas de leite - miseráveis e mercenárias - contratadas pela família e nas casas das quais ficavam, em média, quatro anos, quando sobreviviam.
Nos asilos de Paris, mais de 84% das crianças abandonadas morriam antes de completarem um ano de vida.
Ainda no século XIX era comum a roda dos expostos nos asilos - no excelente Abrigo Romão Duarte, no Rio, ainda existe uma peça dessas em exposição -, o abandono dos filhos era uma rotina aceita.
Mas foi a partir do final desse século que a criança, até então estorvo inútil - porque nada produzia -, passou a ser valorizada, sob a óptica de que deveria sobreviver para ser tornar adulto produtivo.
A criança passou a ser protegida por interesses, antes de tudo econômicos e políticos, a partir da Revolução Industrial especialmente em fins do século XVIII.
As sociedades protetoras da infância surgiram na Europa entre 1865 e 1870, e eram mais recentes, e menos representativas, do que a Sociedade Protetora dos Animais.
A palavra pediatria só surgiu em 1872. De acordo com Elisabeth Badinter, os médicos, então, não tratavam as crianças. Achavam que isso era tarefa das mulheres - ou seja, das mães e amas, porque não existiam médicas.
Em resumo, apesar de ainda não respeitada na sua individualidade, a criança começou a ser de alguma forma protegida há pouco mais de cem anos.
Mas foi só no início do século XX, com Freud, que a criança passou a ser entendida no seu desenvolvimento psicológico.
O castigo físico como método pedagógico, porém, secularmente pregado até por filósofos da grandeza de um Santo Agostinho, continuou até nossos dias.
Ainda de acordo com Elisabeth Badinter, Santo Agostinho justifica todas as ameaças, as varas, as palmatórias.
"Como retificamos a árvore nova com uma estaca que opõe sua força à força contrária da planta, a correção e a bondade humanas são apenas o resultado de uma oposição de forças, isto é, de uma violência".
O pensamento agostiniano reinou por muito tempo na prática pedagógica e, constantemente retomado até o fim do século XVII, manteve, não importa o que se diga, uma atmosfera de rigidez nas famílias e nas novas escolas.
Portanto, por que pais maltratam filhos?
Eu diria: antes de tudo por hábito - culturalmente aceito há séculos. É comum pais afirmarem que apanharam de seus pais e são felizes. A eles dizemos que as coisas mudaram e que, hoje, devemos buscar outras formas de educar os filhos. Educá-los e estabelecer limites, com segurança, com autoridade, mas sem autoritarismo, com firmeza, mas com carinho e afeto. Nunca com castigo físico.
A violência física contra crianças é sempre uma covardia.
O maltrato, em qualquer forma, é sempre um abuso do poder do mais forte contra o mais fraco.
Afinal, a criança é frágil, em desenvolvimento, e totalmente dependente física e afetivamente dos seus pais.
Nesse sentido, acredito que a palmada se insira como uma forma de reconhecimento da insegurança, da fraqueza, da incompetência, dos pais para educar seus filhos, necessitando usar a força física.
Não podemos esquecer também do modelo de violência que transmitimos e perpetuamos nas relações em família, quando estabelecemos limites com violência.
Os filhos aprendem a solução de conflitos pela força - e tenderão a reproduzir esse modelo não só junto às suas famílias, mas em todas as relações interpessoais, na rua ou no trabalho. Inúmeros fatores ajudam a precipitar a violência de pais contra filhos: o alcoolismo e o uso de outras drogas, a miséria, o desemprego, a baixa auto-estima, problemas psicológicos e psiquiátricos. Nesse entendimento, achamos que pais que maltratam seus filhos devem ser orientados sempre e tratados e punidos, se necessário.
Fontedeste artigo> http://www.observatoriodainfancia.com.br/rubrique.php3?id_rubrique=77
Casos de Infanticídio nos últimos dias.
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