Do outro lado da Palmatória
À cinquenta anos atraz, comecei minha vida
escolar. Tudo era novidade, inclusive a convivencia com crianças extranhas,
visto que somente me relacionava até aquela data apenas com os irmãos e éramos seis, com expectativa da chegada do
sétimo.
Nestas alturas, era
comum nalgum entrevero com os irmãos o
emprego de tapas e beliscões. E foi
assim que revidei a uma agreção de uma
coleguinha, que após me chamra de 'negra fedida', e cuspir em mim, me
beliscou.Tenho até hoje a nítida impressão de que a professora a tudo assistiu,
porém somente tomou iniciativa, quando tasquei
um belo belisco no braço da menina. Imediatamente ela me mandou para a
sala do diretor, o sr. Sudário, que após me repreender, avisou-me que eu seria castigada na frente dos coleguinhas
com 10 palmatórias. Eles tinham uma grossa régua de madeira que era o terror da
meninadas, Eu que at[e aquela época só houvera recebido ralhas de meus pais,
sofri o meu primeiro constrangimento físico e público. Após isto, pra não
parecer parcial, obrigou eu e minha desafeta a fazer um tour passando por todas
as classes, que eram interligadas abraçada com a coleguinha, repetindo alguma
coisa como: “Não vou brigar mais”. Este episódio me atormentou por muitos anos.
Penso que introjetei a experiencia e me fechei de tal forma que virei ‘saco de
pancada dos colegas, até que meu irmão passou a me defender, e ganhou a alcunha
de brigão. Mas aí já estávamos em outra escola e as coisas eram um tanto
diferente.Minha educação foi rígida com princípios de respeito aos mais velhos,
independete de quem fosse. Aos professores devotada o mesmo respeito que
dispensava aos meus pais. E sou-lhes
grata pela eternidade.
Mas com o tempo, assisti
entre chocada e desanimada a inversão das coisas. Jovens que não respeitam seus
mestres, e a sociedade tolhendo as possiveis reações desses mestres, sem lhes
apresentar alternativas eficientes, para lidarem com a belicosidade infantil. Até
chegar ao ponto de assistirmos fatos onde a ‘palmatória ‘ mudou de mãos.
Encontramos assim um
verdaeiro cáos nas relações alunos/professores, que poderia bem ser colocado
assim oh! Alunos X professores, onde estes últimos se tornaram verdadeiros reféns
de conceitos que pretendiam proteger e defender
as crianças,e agora correm contra o tempo, para encontrar ferramentas que
protejam e defendam os professores.
Correm contra o relógio
nesta tentativa.
Trago para vossa apreciação
Editado pela Revista pontocom,
direcionado aos professores cujo titulo é:
Palmatória, justa¿
Eis o artigo:
“Respeito ao professor. O que deveria ser uma
prática normal da boa educação e cidadania poderá virar lei com punição aos
alunos infratores. A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 267/11, da
deputada Cida Borghetti (PP-PR), que estabelece sanções para estudantes que
desrespeitarem professores ou violarem regras éticas e de comportamento de
instituições de ensino. As sanções envolvem suspensão e encaminhamento aos
órgãos judiciários competentes, em caso de reincidência.
“Infelizmente, a indisciplina em sala de aula
tornou-se algo rotineiro nas escolas brasileiras, e o número de casos de
violência contra professores por parte de alunos aumenta assustadoramente.
Trata-se de comportamento decrépito, inaceitável e insustentável, que deve ser
prontamente erradicado da vida escolar com a adoção de medidas próprias”,
destaca a deputada.
A revistapontocom quer saber
Você, professor, já foi vítima de estudantes?
Conte sua história.
“O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece
inúmeros direitos e garantias para a criança e o adolescente e as respectivas
obrigações a serem cumpridas pelo Estado e pela sociedade. Todavia, inexistem
dispositivos a disciplinar as obrigações que essas pessoas, na condição de
estudantes, devem ter perante seus mestres”, afirma a parlamentar.
O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será
analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Educação e Cultura;
e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovado, segue para o Senado.
Acompanhe a tramitação do
projeto de lei.
Interessante Observar que os castigos físicos
foram abolidos em 30 Estados norte-americanos. A abolição dos castigos físicos
nas escolas começou há 20 anos mas não existe uma lei federal a proibi-los. Há
Estados que proíbem expressamente qualquer castigo físico e há Estados que
deixam essa matéria ao arbítrio dos conselhos e administrações escolares. É o
caso do Texas onde ficam as 14 escolas públicas da cidade de Temple que são o
alvo da história no
Washington Post da sexta-feira passada.
Fartos de cenas de indisciplina e violência na
escola, os pais exigiram ao Conselho Escolar que controla as 14 escolas
públicas da cidade de Temple que se pronunciasse sobre o regresso da
palmatória.
O conselho reuniu e votou, por unanimidade e escrutínio secreto, a
introdução do castigo físico nas escolas sob a forma de reguadas até ao máximo
de três na palma da mão dos infractores.
Desde que a medida foi introduzida, a
indisciplina reduziu drasticamente, ainda que a medida só tenha sido aplicada a
um único aluno das 14 escolas públicas.
O efeito preventivo das reguadas foi suficiente
para provocar nos alunos mais agressivos e indisciplinados o autodomínio,
conduzindo-os à aquisição de bons hábitos escolares. Todos estão satisfeitos:
pais, professores e alunos. E a satisfação resulta de as 14 escolas de Temple
passarem a ser mais seguras e com melhores ambientes de aprendizagem.
Em Portugal, país de cagarolas e gente fraca
que já foi valente, isto seria impossível.
Os castigos físicos continuam a ter cobertura
legal em 20 Estados norte-americanos, sobretudo do Sul, mas não podem ser
aplicados por professores. Só os directores das escolas ou os respectivos
adjuntos podem fazer uso da régua para castigar os infractores.
As Exéquias da Palmatória
Presente em diversos países, sua prática só foi
abolida na Inglaterra, no final do século XX, em 1989, e ainda é usual em
algumas nações, principalmente as orientais.
No Brasil em 1980, os castigos corporais foram
criminalizados e com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em
1990, a palmatória foi suprimida.
Segundo a historiadora Mary Del Priori, em seu
livro “A História das Crianças no Brasil”, o artefato foi introduzido na
colônia brasileira pelos jesuítas como ferramenta disciplinadora. Amplamente
difundida, foi ferozmente utilizada pelos senhores de escravos nos cativos
desobedientes. "A partir da segunda metade do século XVIII, com o
estabelecimento das chamadas aulas régias, a palmatória era o instrumento dessa
época, dirigido aos professores” (PRIORI apud LIMA).
Na Uberaba de meados do século XIX, era também
comum a utilização desse instrumento como corretivo para as faltas cometidas
pelos alunos. De acordo com PONTES (1992), o medo do castigo era um estímulo
para que os estudantes se dedicassem à aprendizagem.
A história que se segue, sobre a palmatória, é
baseada em um texto do referido autor, e encontra-se no livro: “Vida, Casos e
Perfis”.
O professor Francisco José de Camargos,
popularmente conhecido por Mestre Camargos, protagonizava um acontecimento
singular envolvendo o temido artefato.
Contrariando o hábito da maioria dos
outros docentes que não realizavam nenhuma festa comemorativa, o Mestre
celebrava com os alunos, no final do ano, no dia 13 de dezembro, data
consagrada a Santa Luzia, o enterro da palmatória. (A férula era chamada de
Santa Luzia).
Com a presença de todos os estudantes, a cerimônia
tinha início com a decoração da palmatória com flores naturais. Após ter sido
“paramentada”, ela era colocado em um caixãozinho fúnebre e carregada por
vários alunos. Quem não tinha o privilégio de levá-la entoava um hino adequado
para a célebre ocasião e todos, em procissão, seguiam rumo ao quintal da
escola, onde o ataúde era enterrado.
Finda a “solenidade”, os alunos se despediam do professor e entravam de
férias. No ano seguinte, frente à primeira falta grave de um dos estudantes,
acompanhado dos colegas e do Mestre, o indisciplinado ia exumá-la para que
recebesse o castigo devido.
Cíntia Gomide Tosta
Referências
PONTES, Hildebrando de Araújo. Vida, Casos e
Perfis. Uberaba: Arquivo Público de Uberaba, 1992.
PRIORI, Mary del. História das Crianças no Brasil.
São Paulo: Contexto. 1999.
LIMA, Raymundo. Palmada educa? Revista Espaço
Acadêmico
Disponível em:
http://www.espacoacademico.com.br/042/42lima.htm
O castigo físico em crianças foi introduzido no
Brasil pelos padres jesuítas no século XVI, causando indignação nos indígenas,
que repudiavam o ato de bater em crianças. A correção, como explica a
historiadora Mary Del Priore, no livro História das Crianças no Brasil, era
considerada uma forma de amor. O excesso de carinho devia ser evitado porque
fazia mal aos filhos. A relação entre os pais e suas crianças teria de ser o
espelho do amor divino, segundo o qual, amar é castigar os erros e dar exemplo
de vida correta. Os castigos disciplinares devem ser aplicados não apenas para
corrigir as chamadas ‘malcriações’ e ‘birras’ como também serve para sacudir a
preguiça que é considerada culpada de muitos erros e ignorâncias desde cedo no
espírito da criança.
A perspectiva judaico-cristã sempre foi favorável
por uma educação por meio de castigos físicos.
A historiadora comenta que "a partir da segunda metade do século
XVIII, com o estabelecimento das chamadas aulas régias, a palmatória era o
instrumento dessa época, dirigido aos professores”.
“Ao expulsar os jesuítas de Portugal e de suas
colônias, em 1760, o Marquês de Pombal pôs fim à principal forma de educação
vigente no Brasil. Segundo o pesquisador Luiz Kelly Martins dos Santos, a
Reforma Pombalina foi catastrófica porque era um plano político, não
pedagógico."O alvará assinado pelo rei de Portugal e aplicado no Brasil
(seria precursor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira)
introduziu normas punitivas a professores e alunos - nestes últimos, podia-se
aplicar castigos físicos como palmatória e ajoelhar-se no milho"
o estudo de Michel Foucault (1977) o uso do castigo
físico faz parte de um sistema de controle de uma sociedade investida do
sentido da ordem e da lei. A vigilância enreda a todos, e não apenas as
crianças. As instituições do século 18, ligadas por uma espécie de ‘rede’ de
crenças, valores e hábitos, geraram um sistema de vigilância, controle e
punição desde a família, até prisão, passando pela escola ou serviço militar. A
educação tradicional era autoritária porque podia impor, todo o seu saber e
poder para “torcer o pepino desde pequeno”. Era um sistema educativo que
acreditava ser preciso formar um cidadão “disciplinado” para ser “dócil” a nova
ordem moderna. Mas em nossa época denominada pós-moderna querer resgatar o
castigo físico como método educativo, além de ser um contra-senso é uma prática
fora de lugar. Os pais que ousam bater nos filhos, no fundo, carecem de
palavras e de espírito democrático. Funcionam como o terrorismo que através de
seu ato – bruto, rude, bárbaro - pretendem eliminar o sentido das palavras e o
valor do diálogo na construção do verdadeiro sujeito. Mais ainda, eles
acreditam que são donos do corpo dos filhos assim como era o senhor de
escravos; alguns professores ainda vivem no mundo delirante dos anos 70,
acreditando que podem dirigir os corpos, os corações e o futuro dos seus
alunos. O ato de bater reforça, sem dúvida, o autoritarismo e sadismo do mais
forte sobre o mais fraco, no caso, a criança, termina ficando ressentida e com
raiva. Existe suspeita de que o ato de bater pode levar o agressor a uma
compulsão à repetição, isto é, a adquirir prazer e gozo sádico em bater.
À partir do texto acima e do livro do Foucault
(FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão.) questionar e discutir
com os alunos sobre metodologias usadas como forma de agressão, e como a
palmatória influenciava como instrumento intermediário no processo de ensino.
Vivemos numa época de crise de paradigmas,
inclusive no campo da educação. Ninguém tem a verdade e existe confusão quanto
qual a melhor maneira de educar.
Equilibrar palavras e atos assertivos, sem recorrer
o uso de violência física, é fazer da educação uma arte e nova ética para uma
nova geração que poderá ser mais democrática e mais feliz.
Referência
Bibliográfica:
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de
Raquel Ramalhete, Petrópolis: Vozes, 2002.
http://www.espacoacademico.com.br
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