segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Do outro lado da Palmatória


Do outro lado da Palmatória

À cinquenta anos atraz, comecei minha vida escolar. Tudo era novidade, inclusive a convivencia com crianças extranhas, visto que somente me relacionava até aquela data apenas com os irmãos e  éramos seis, com expectativa da chegada do sétimo.
Nestas alturas, era comum  nalgum entrevero com os irmãos o emprego de tapas e  beliscões. E foi assim que revidei  a uma agreção de uma coleguinha, que após me chamra de 'negra fedida', e cuspir em mim, me beliscou.Tenho até hoje a nítida impressão de que a professora a tudo assistiu, porém somente tomou iniciativa, quando tasquei  um belo belisco no braço da menina. Imediatamente ela me mandou para a sala do diretor, o sr. Sudário, que após me repreender, avisou-me que  eu seria castigada na frente dos coleguinhas com 10 palmatórias. Eles tinham uma grossa régua de madeira que era o terror da meninadas, Eu que at[e aquela época só houvera recebido ralhas de meus pais, sofri o meu primeiro constrangimento físico e público. Após isto, pra não parecer parcial, obrigou eu e minha desafeta a fazer um tour passando por todas as classes, que eram interligadas abraçada com a coleguinha, repetindo alguma coisa como: “Não vou brigar mais”. Este episódio me atormentou por muitos anos. Penso que introjetei a experiencia e me fechei de tal forma que virei ‘saco de pancada dos colegas, até que meu irmão passou a me defender, e ganhou a alcunha de brigão. Mas aí já estávamos em outra escola e as coisas eram um tanto diferente.Minha educação foi rígida com princípios de respeito aos mais velhos, independete de quem fosse. Aos professores devotada o mesmo respeito que dispensava  aos meus pais. E sou-lhes grata pela eternidade.
Mas com o tempo, assisti entre chocada e desanimada a inversão das coisas. Jovens que não respeitam seus mestres, e a sociedade tolhendo as possiveis reações desses mestres, sem lhes apresentar alternativas eficientes, para lidarem com a belicosidade infantil. Até chegar ao ponto de assistirmos fatos onde a ‘palmatória ‘ mudou de mãos.

Encontramos assim um verdaeiro cáos nas relações alunos/professores, que poderia bem ser colocado assim oh! Alunos X professores, onde estes últimos se tornaram verdadeiros reféns de conceitos que pretendiam  proteger e defender as crianças,e agora correm contra o tempo, para encontrar ferramentas que protejam e defendam os professores.
Correm contra o relógio nesta tentativa.
Trago para vossa apreciação  Editado pela Revista pontocom, direcionado aos professores cujo titulo é:
Palmatória, justa¿

Eis o artigo:


“Respeito ao professor. O que deveria ser uma prática normal da boa educação e cidadania poderá virar lei com punição aos alunos infratores. A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 267/11, da deputada Cida Borghetti (PP-PR), que estabelece sanções para estudantes que desrespeitarem professores ou violarem regras éticas e de comportamento de instituições de ensino. As sanções envolvem suspensão e encaminhamento aos órgãos judiciários competentes, em caso de reincidência.

“Infelizmente, a indisciplina em sala de aula tornou-se algo rotineiro nas escolas brasileiras, e o número de casos de violência contra professores por parte de alunos aumenta assustadoramente. Trata-se de comportamento decrépito, inaceitável e insustentável, que deve ser prontamente erradicado da vida escolar com a adoção de medidas próprias”, destaca a deputada.
De acordo com o projeto, o estudante infrator pode ser suspenso e, caso repita o ato, encaminhando para a Justiça. A proposta muda o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), uma vez que estabelece o respeito aos códigos de ética e de conduta como responsabilidade e dever da criança e do adolescente na condição de estudante.


A revistapontocom quer saber
Você, professor, já foi vítima de estudantes?
Conte sua história.
“O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece inúmeros direitos e garantias para a criança e o adolescente e as respectivas obrigações a serem cumpridas pelo Estado e pela sociedade. Todavia, inexistem dispositivos a disciplinar as obrigações que essas pessoas, na condição de estudantes, devem ter perante seus mestres”, afirma a parlamentar.
O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovado, segue para o Senado.
Acompanhe a tramitação do projeto de lei.




Interessante Observar que os castigos físicos foram abolidos em 30 Estados norte-americanos. A abolição dos castigos físicos nas escolas começou há 20 anos mas não existe uma lei federal a proibi-los. Há Estados que proíbem expressamente qualquer castigo físico e há Estados que deixam essa matéria ao arbítrio dos conselhos e administrações escolares. É o caso do Texas onde ficam as 14 escolas públicas da cidade de Temple que são o alvo da história no Washington Post da sexta-feira passada.

Fartos de cenas de indisciplina e violência na escola, os pais exigiram ao Conselho Escolar que controla as 14 escolas públicas da cidade de Temple que se pronunciasse sobre o regresso da palmatória. 




O conselho reuniu e votou, por unanimidade e escrutínio secreto, a introdução do castigo físico nas escolas sob a forma de reguadas até ao máximo de três na palma da mão dos infractores.
Desde que a medida foi introduzida, a indisciplina reduziu drasticamente, ainda que a medida só tenha sido aplicada a um único aluno das 14 escolas públicas.
O efeito preventivo das reguadas foi suficiente para provocar nos alunos mais agressivos e indisciplinados o autodomínio, conduzindo-os à aquisição de bons hábitos escolares. Todos estão satisfeitos: pais, professores e alunos. E a satisfação resulta de as 14 escolas de Temple passarem a ser mais seguras e com melhores ambientes de aprendizagem.
Em Portugal, país de cagarolas e gente fraca que já foi valente, isto seria impossível.
Os castigos físicos continuam a ter cobertura legal em 20 Estados norte-americanos, sobretudo do Sul, mas não podem ser aplicados por professores. Só os directores das escolas ou os respectivos adjuntos podem fazer uso da régua para castigar os infractores.


 O assunto constitui tema aberto, para discussão.






As Exéquias da Palmatória




A utilização de castigos na educação é antiga, tão antiga, quanto polêmica, confunde-se com a própria história dessa instituição basilar. Dentre os instrumentos de punição física, a palmatória talvez seja um dos mais conhecidos. Utilizada nos alunos indisciplinados, a férula, como também era chamada, causava medo entre os estudantes.

Presente em diversos países, sua prática só foi abolida na Inglaterra, no final do século XX, em 1989, e ainda é usual em algumas nações, principalmente as orientais.
No Brasil em 1980, os castigos corporais foram criminalizados e com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, a palmatória foi suprimida.

Segundo a historiadora Mary Del Priori, em seu livro “A História das Crianças no Brasil”, o artefato foi introduzido na colônia brasileira pelos jesuítas como ferramenta disciplinadora. Amplamente difundida, foi ferozmente utilizada pelos senhores de escravos nos cativos desobedientes. "A partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas aulas régias, a palmatória era o instrumento dessa época, dirigido aos professores” (PRIORI apud LIMA).

Na Uberaba de meados do século XIX, era também comum a utilização desse instrumento como corretivo para as faltas cometidas pelos alunos. De acordo com PONTES (1992), o medo do castigo era um estímulo para que os estudantes se dedicassem à aprendizagem.

A história que se segue, sobre a palmatória, é baseada em um texto do referido autor, e encontra-se no livro: “Vida, Casos e Perfis”.

O professor Francisco José de Camargos, popularmente conhecido por Mestre Camargos, protagonizava um acontecimento singular envolvendo o temido artefato. 

Contrariando o hábito da maioria dos outros docentes que não realizavam nenhuma festa comemorativa, o Mestre celebrava com os alunos, no final do ano, no dia 13 de dezembro, data consagrada a Santa Luzia, o enterro da palmatória. (A férula era chamada de Santa Luzia).

Com a presença de todos os estudantes, a cerimônia tinha início com a decoração da palmatória com flores naturais. Após ter sido “paramentada”, ela era colocado em um caixãozinho fúnebre e carregada por vários alunos. Quem não tinha o privilégio de levá-la entoava um hino adequado para a célebre ocasião e todos, em procissão, seguiam rumo ao quintal da escola, onde o ataúde era enterrado.
           
Finda a “solenidade”, os alunos se despediam do professor e entravam de férias. No ano seguinte, frente à primeira falta grave de um dos estudantes, acompanhado dos colegas e do Mestre, o indisciplinado ia exumá-la para que recebesse o castigo devido.

Cíntia Gomide Tosta

Referências

PONTES, Hildebrando de Araújo. Vida, Casos e Perfis. Uberaba: Arquivo Público de Uberaba, 1992.

PRIORI, Mary del. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto. 1999.

LIMA, Raymundo. Palmada educa? Revista Espaço Acadêmico
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/042/42lima.htm


O castigo físico em crianças foi introduzido no Brasil pelos padres jesuítas no século XVI, causando indignação nos indígenas, que repudiavam o ato de bater em crianças. A correção, como explica a historiadora Mary Del Priore, no livro História das Crianças no Brasil, era considerada uma forma de amor. O excesso de carinho devia ser evitado porque fazia mal aos filhos. A relação entre os pais e suas crianças teria de ser o espelho do amor divino, segundo o qual, amar é castigar os erros e dar exemplo de vida correta. Os castigos disciplinares devem ser aplicados não apenas para corrigir as chamadas ‘malcriações’ e ‘birras’ como também serve para sacudir a preguiça que é considerada culpada de muitos erros e ignorâncias desde cedo no espírito da criança.

A perspectiva judaico-cristã sempre foi favorável por uma educação por meio de castigos físicos.  A historiadora comenta que "a partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas aulas régias, a palmatória era o instrumento dessa época, dirigido aos professores”.

“Ao expulsar os jesuítas de Portugal e de suas colônias, em 1760, o Marquês de Pombal pôs fim à principal forma de educação vigente no Brasil. Segundo o pesquisador Luiz Kelly Martins dos Santos, a Reforma Pombalina foi catastrófica porque era um plano político, não pedagógico."O alvará assinado pelo rei de Portugal e aplicado no Brasil (seria precursor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira) introduziu normas punitivas a professores e alunos - nestes últimos, podia-se aplicar castigos físicos como palmatória e ajoelhar-se no milho"



A palmatória tornou-se um símbolo de disciplina na educação da geração do Brasil Colonial. Mas foi ainda muito usada depois da Independência. Era comum nas formaturas de fim de ano os alunos presentearem os professores com palmatórias feitas de madeira compensada ou papelão, como forma de mostrarem submissão à autoridade


o estudo de Michel Foucault (1977) o uso do castigo físico faz parte de um sistema de controle de uma sociedade investida do sentido da ordem e da lei. A vigilância enreda a todos, e não apenas as crianças. As instituições do século 18, ligadas por uma espécie de ‘rede’ de crenças, valores e hábitos, geraram um sistema de vigilância, controle e punição desde a família, até prisão, passando pela escola ou serviço militar. A educação tradicional era autoritária porque podia impor, todo o seu saber e poder para “torcer o pepino desde pequeno”. Era um sistema educativo que acreditava ser preciso formar um cidadão “disciplinado” para ser “dócil” a nova ordem moderna. Mas em nossa época denominada pós-moderna querer resgatar o castigo físico como método educativo, além de ser um contra-senso é uma prática fora de lugar. Os pais que ousam bater nos filhos, no fundo, carecem de palavras e de espírito democrático. Funcionam como o terrorismo que através de seu ato – bruto, rude, bárbaro - pretendem eliminar o sentido das palavras e o valor do diálogo na construção do verdadeiro sujeito. Mais ainda, eles acreditam que são donos do corpo dos filhos assim como era o senhor de escravos; alguns professores ainda vivem no mundo delirante dos anos 70, acreditando que podem dirigir os corpos, os corações e o futuro dos seus alunos. O ato de bater reforça, sem dúvida, o autoritarismo e sadismo do mais forte sobre o mais fraco, no caso, a criança, termina ficando ressentida e com raiva. Existe suspeita de que o ato de bater pode levar o agressor a uma compulsão à repetição, isto é, a adquirir prazer e gozo sádico em bater.



À partir do texto acima e do livro do Foucault (FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão.) questionar e discutir com os alunos sobre metodologias usadas como forma de agressão, e como a palmatória influenciava como instrumento intermediário no processo de ensino.

Vivemos numa época de crise de paradigmas, inclusive no campo da educação. Ninguém tem a verdade e existe confusão quanto qual a melhor maneira de educar.

Equilibrar palavras e atos assertivos, sem recorrer o uso de violência física, é fazer da educação uma arte e nova ética para uma nova geração que poderá ser mais democrática e mais feliz.





  Referência Bibliográfica:

         FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete, Petrópolis: Vozes, 2002.

           http://www.espacoacademico.com.br

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