sexta-feira, 12 de julho de 2013

Joáo Evangelista de Carvalho está a nos deixar

                                   


É Seu João, chegou o dia da sua partida!
O senhor está a nos deixar, a se despedir de todos nós.
Sabe de uma coisa?
Me lembro do nosso primeiro encontro, e meus ouvidos tem gravado a sua rizadinha e seu caminhar  tranquilo, macio, feito o caminhar de um mineiro. Chegava na casa da filha, e ao se apresentado descobria que eu e ela tínhamos o mesmo nome. Estendeste a mão sorrindo, e nascia aí uma amizade que lá vai pra quase 40 anos, lembra-se?
                                                                        
                                                          
Quantas coisa nesse tempo né verdade?

Os meninos ficaram adultos casaram-se, os netos chegando, trazendo cada um momentos inesquecíveis de alegria.
Lembra quando o senhor trabalhava num edificio, e nos víamos de vez 'enquando' de passagem? Trazia sempre o radiosinho no bolso da camisa, e o sorriso no rosto, sua marca registrada, e o falar manso que nem mineiro?
A vida passando, o tempo fluindo, e o senhor sempre gentil, sempre tão agradável, tão amigo.
Depois veio o tempo de eu partir. Quantos anos? Foram muitos. Nem sei mais ao certo quantos, mas não foram muito o suficiente para esquecer nossa amizade. Ao voltar, matamos a s saudades, e parecia que tinha sido ontem que eu me aventurava por outras bandas. Mas o senhor  se mudara com dona Cida para outro bairro, bem mais longe, um lugar encantador.

                                
                                   
Lembra-se da primeira vez que os visitei? Era uma tarde de sol ameno, e a primeira coisa que vi foi a matinha de serrado, antes de chegar no seu novo endereço; e foi de lá que o senhor passou a extrair óleo da copaíba para mim. Lembra-se disso? Por anos a fio eu recebia o seu precioso presente: Um vidrinho de copaíba e sementes de sucupira. Até que a enfermidade lhe tolheu a tranquilidade do ir e vir. Nesse tempo, fomos surpreendidos pela partido do seu filho amado para junto do pai, né? Ah! como foi doloroso ler em seus olhos o tamanho dessa dor! Me senti impotente naquele momento, ainda bem que sabia que uma prece amorosa era remédio certeiro para seu coraçãozinho dorido. E foi o que eu fiz silenciosamente, sendo contemplada logo mais com o seu precioso sorriso. No fundo sei que ele veio apenas para acalmar minha angústia por vê-lo triste. Mas não há remédio humano para uma dor de alma né mesmo meu amigo? Por isso sei e entendo porque do apagão no seu belo sorriso.
Ultimamente, fragilizado pelas debilidades da idade, falamo-nos muito pouco, mas sempre o mesmo carinho, a mesma magia encantadora que somente um coração sereno pode transmitir. E hoje chegou finalmente, o fim das dores  e limitações físicas, do corpo alquebrado pelos quase um século de vida. Vida de exemplo para os filhos, amigos, netos e bisnetos.
Nesta hora, todos velam seu corpo inerte numa urna mortuária, e apesar da dor da despedida, da saudade já sentida, todos os que tiveram o privilégio de dividir com o senhor a vida, por menor tempo que fosse, sabem no fundo do coração, que o senhor é um dos raros homens de hoje, que pode deixar no corpo abandonado um sorriso sereno de quem cumpriu fielmente a sua missão na terra.
Daqui, distante por algumas dezenas de metros, mas unida em coração a todos que te velam a roupagem deixada, não choro, apenas o reverencio, como de fato fizeste por merecer. Em minhas preces daqui a pouco, na verdade desde já, além de lhe desejar ardentemente, um despertar tranquilo , tão sereno quanto o foste até aqui, lhe endereço um abraço repleto de gratidão e respeito. 
E como não encontro palavras para expressar meu coração, apenas lhe digo querido amigo que parte.
Vá com Deus seu João Evangelista!

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