As minas na luta: Dilma Rousseff e a heroína do Crato
TER, 08/03/2016 - 12:58
ATUALIZADO EM 08/03/2016 - 14:20
Dilma Rousseff e a heroína do Crato
por Armando Rodrigues Coelho Neto
De onde vem tanta fibra, tanto brio senhora presidenta? Como sua história de luta já foi contada e recontada em muitos espaços, com muito mais brilho e detalhes, a minha contribuição aqui seria pouca, traria nada de novo, e só me restaria me desmanchar em elogios, o que poderia enveredar pela tietagem. Sobretudo num momento de crise, no qual outros valores falam mais alto.
Em razão disso, quero, nesse Dia Internacional da Mulher, fazer uma homenagem às mulheres através de sua pessoa. Mas, para essa homenagem à Comandante Máxima da Nação, convido o leitor a saber um pouco sobre Bárbara de Alencar, a primeira mulher prisioneira política.
Em nome dela, saúdo a Presidenta Dilma, em nome de quem cumprimento a mulher brasileira, todas as guerreiras desse mundo irmão, sobre os quais os vendilhões querem por cercas.
O papel histórico da mulher na formação da sociedade brasileira ainda é pouco estudado. Na primeira metade do século 19 uma matriarca pernambucana, valente, aguerrida, de fibra, participou ao lado dos filhos da revolução republicana do nordeste, em 1817. Por suas ideias ela foi humilhada e encarcerada. E, mal saiu da prisão voltou à luta
À época, ela tinha 53 anos e passou mais três jogada de uma prisão para outra. Segundo pesquisadores, permanecer na cidade do Crato seria um risco social. Transferida para Fortaleza, causou a mesma impressão e a solução foi mandá-la para Recife. A saída final seria encarcerá-la na cidade de Salvador, onde a população apoiava a monarquia e não aderiu aos movimentos libertários que ela defendia junto com os filhos.
A condição de mulher viúva e mãe nunca a afastou do burburinho político da época, convertendo-se em atuante militante, a ponto de, no dia 6 de maio de 1817, poder comemorar uma revolução vitoriosa com a tomada do forte das Cinco Pontas (Recife/PE).
O historiador Denis Bernardes, em entrevista ao programa De lá pra cá, produzido pela TV Brasil, a trata como heroína. “Todos que como ela se engajaram naquela luta têm a condição heróis da nação que desejavam implantar”, diz ele, não sem destacar que Bárbara tem um lugar especial. Além do mais, foi a primeira mulher prisioneira política de nossa história. Teve quatro filhos, todos revolucionários.
Tadeu de Alencar, Procurador Geral do estado de Pernambuco, no mesmo programa televisivo lamenta. “Infelizmente é uma ilustre conhecida em seu próprio estado, pois quem mais conhece Bárbara é o povo do Cariri (CE), por força da efervescência daqueles tempos”. Afinal, diz ele, desde cedo ela foi uma mulher de muita opinião. O pai Joaquim que era uma pessoa mais circunspecta e desde cedo percebeu seu brilho, entusiasmo, inteligência, ao mesmo tempo em que revelava talento para os trabalhos rurais.
Conheceu um português, Joaquim Gonçalves, que veio nessas levas que veio ao Brasil se aventurar, e, na prática, quebrando uma tradição de seu tempo, praticamente ela pediu o português em casamento. E, enquanto ele tomava conta de uma loja de tecidos, ela cuidava de uma fazenda na região do Crato (CE), mas sempre vigilante quanto a boa educação dos filhos, que foram estudar em Olinda (PE).
O seminário Nossa Senhora da Graça, em Olinda (PE), era uma usina de revolucionários, seguindo uma tradição libertária do próprio estado de Pernambuco. Aliás, uma efervescência que vinha desde os tempos de Bernardo Vieira de Melo, que em 1710, deu o primeiro grito de República no Brasil.
O engajamento de Bárbara teve muita influência da revolução de 1817, em Recife (PE), além da influência dos filhos, tomando parte em colóquios revolucionários. Nessa trilha, em 6 de março de 1817, a cidade do Recife se torna a primeira vila republicana. Um feito que implicou inclusive na elaboração de uma constituição.
No intenso burburinho recifense, o último dos seus filhos, José Martiniano, que também estudou em Olinda, foi para o Ceará para difundir os ideais revolucionários. Levou com ele parentes e revolucionários e acabaram por proclamar a cidade do Crato (CE) a primeira vila republicana, no dia 29 de abril de 1817, sob o ideário de libertação do julgo da Coroa Portuguesa. José Martiniano sobe ao púlpito da igreja do Cariri, proclama a república, vai até a câmara, incita os presentes, arranca a bandeira e vai para a casa de Bárbara Alencar, onde se dão as comemorações.
A república do Crato, porém, durou apenas oito dias e com o fracasso da revolução é obrigada a fugir do Crato, disfarçada de escrava, mas é presa no Rio do Peixe nas proximidades. Todos presos, entre eles Bárbara, são levados pelas ruas conduzidos em animais com os pés presos por baixo das barrigas dos cavalos. Expostos ao público como exemplos do mal, o povo é incitado a chamá-los de heréticos e traidores do rei.
Do Crato foram levados para a cidade de Fortaleza, onde permaneceram em condições insalubres e desumanas. “As comidas eram servidas em cochos como quem serviam porcos”, diz Tadeu Alencar.
Por conta dessas atividades, Bárbara ficou três anos presa e quando saiu voltou a fazer política novamente.
Segundo historiadores, parte do descontentamento ocorrido em Pernambuco teve a ver com a cobrança de impostos. Dom João VI investiu muito na cidade do Rio de Janeiro (sede da corte), e por questões de segurança resolveu melhorar a iluminação da cidade. Para fazer isso, começou a cobrar impostos sobre cada escravo que entrasse no Brasil. Pernambuco, então um dos maiores importadores de escravo, nessa condição, passou praticamente a pagar a iluminação da cidade do Rio de Janeiro, quando a cidade de Recife não tinha sequer postes de luz.
Em 1820, com a volta de Dom João a Portugal, Dom Pedro concede anistia, da qual Bárbara se beneficia e volta ao Crato. De pronto, dá início a uma luta na Justiça para reaver os bens que lhes foram confiscado pelos monarquistas. Não só, retoma a atividade política, avançando no novo momento político que é a Confederação do Equador, que representou o principal movimento contra o absolutismo do Brasil, já em 1824.
Mais sobre a heroína do Crato
Bárbara Pereira de Alencar Nasceu na fazenda Caiçara de propriedade de seu avô Leonel Alencar Rego. Patriarca da família Alencar, antiga freguesia de Cabrobó (atualmente Exu – PE). Viúva, participou de movimentos militares como a Revolução Pernambucana (1817) e da Confederação do Equador (1824). É considerada a primeira prisioneira política da História do Brasil. Combatia o absolutismo monárquico português e a influência das ideias Iluministas, propagadas pelas sociedades maçônicas.
Filha de Joaquim Pereira de Alencar e de Teodora Rodrigues da Conceição, casou-se (1782) com o capitão e comerciante português, José Gonçalves do Santos. Foi mãe de quatro filhos, entre eles os também revolucionários Tristão Gonçalves de Alencar Araripe (1789-1824) e José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860), este pai do famoso jornalista, político, romancista e dramaturgo brasileiro, o escritor José Martiniano de Alencar (1829-1877), e de uma filha apenas conhecida como Joaquina Maria de São José.
Conhecida como heroína do Crato, morreu viúva, aos 72 anos e sepultada no interior da pequena igreja de Nossa Senhora do Rosário, no distrito de Itaguá, a 10 quilômetros da sede de Campos Sales, Ceará.
Postumamente, séculos depois, tem recebido as devidas homenagens por suas lutas. Foi lançada pelo Centro Cultural Bárbara de Alencar (11/02/2005) a Medalha Bárbara de Alencar, para premiar anualmente, três mulheres, sempre no dia 11 de fevereiro, por suas ações junto a sociedade. O centro administrativo do Governo do Ceará foi batizado de Centro Administrativo Bárbara de Alencar. Também foi erigida uma estátua da heroína na Praça da Medianeira na Avenida Heráclito Graça próxima ao Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza.
Avó de José de Alencar
Barbara de Alencar foi a primeira presa política brasileira. Avó do escritor José de Alencar, ela e seus três filhos tomaram parte na Revolução Pernambucana de 1817, um movimento republicano e separatista, que durante quase dois meses manteve a independência de parte do nordeste brasileiro. A exemplo da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, a Revolução Pernambucana foi brutalmente massacrada pela Coroa Portuguesa e vários de seus líderes foram executados.
Texto principal inspirado no vídeo do programa De lá pra cá, produzido pela TV Brasil, acessível no link –
ORIGEM DESTE ARTIGO Assista também os vídeos.
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