quarta-feira, 19 de abril de 2017

O TEMPO É O AGORA


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Por.: Prof:-Vicente Cascione


O TEMPO É O AGORA
Vivi a maior parte da minha vida exercendo o ofício de ensinar. Mas nem sei se consegui transmitir com bons resultados o meu conhecimento aos alunos, primeiro, aos adolescentes no antigo ginásio, e, depois, nas décadas escoadas em espaços universitários.
Agora, penso no tempo perdido como professor. Teria sido melhor, para mim, aproveitá-lo aprendendo mais.
De minhas múltiplas ignorâncias e dúvidas, algumas eram superáveis, outras evidentemente, não. Mas, quanto mais eu pudesse pensar e conhecer, mais minha mente seria fértil e floresceria.
Mal ensinei o que eu sabia, e, tragicamente faltou-me ensinar tudo quanto não pude saber.
Com tristeza, preocupação e desânimo, vejo a ânsia de aprender ir murchando na mente de algumas pessoas, levando-as a um tipo de jejum intelectual, de anorexia cerebral. Quando alguém diz: deu branco! fez uma constatação de que algo guardado em sua memória, ou em seu conhecimento, apenas resolveu esconder-se momentaneamente.
Mas parece haver, nesta pós-modernidade retrógrada, uma intenção crescente de fazer desse branco não apenas um fenômeno ocasional, lapso de memória, simples esquecimento inesperado, e, sim, uma deliberada vontade de criar e cultivar o branco, o vazio, o oco, o vácuo nas moradas baldias da mente.
Quem não quer pensar, e aprender por livre e espontânea vontade...tudo bem. Mas, para os desprovidos e excluídos da oportunidade de saber, nada bem!
De qualquer modo, cérebros vazios, por escolha pessoal, ou em razão de dificuldades dominantes, não produzem bons pensamentos, raciocínios lógicos, argumentos sólidos, opiniões consistentes, e escolhas ou descobertas de caminhos úteis, corretos e precisos para a condução da vida nesse estágio de nossa condição humana sempre longínqua do plano ideal, e distanciada da perfeição.
O angustiante dilema, para alguém diante de sua própria existência, é como encarar o tempo, essa areia fugidia vazando no funil das ampulhetas. Enquanto os pequeninos grãos do passado aumentam de volume no espaço inferior, a areia do presente escoa minguando a cada segundo.
Os homens imaginam estar a construir o futuro, e esquecem-se do minuto fatal que o interrompe em seu imaginário advento.
Temos a idéia de que o curso do tempo colocará as coisas em ordem, dando-nos a possibilidade de pouco a pouco edificarmos o futuro. Na verdade não existe um dia seguinte tutelado por ninguém. È em cada instante imediato que nos cabe por ordem em nós mesmos, em cada átimo de tempo.
O filósofo Krishnamurti narra a história de um discípulo que se aproximou de Deus para pedir que lhe fosse ensinada a verdade. O pobre Deus, exausto, disse-lhe: -“ Meu amigo, hoje faz muito calor, e eu te peço que me traga um copo d’água”.
O discípulo saiu em busca de água, bateu numa porta e foi atendido por uma linda e jovem mulher. Ambos cegaram de encantamento, amaram-se, casaram-se e tiveram muitos filhos.
Certo dia, as nuvens explodiram em chuva torrencial. E choveu. E choveu com a intensidade dos dilúvios. Inundaram-se as ruas, as correntezas cresceram, casas foram arrastadas, e aquele discípulo, em desespero gritou diante de Deus: - “Senhor, vem em nosso socorro!”
E Deus lhe respondeu: - “Onde está aquele copo d'água que eu lhe tinha pedido ?”
Nós cremos que o tempo nos permite o passo a passo. Diante de um perigo imediato que nos ameaça, o tempo parece desaparecer. A nossa ação é imediata E nós não notamos os outros incontáveis perigos que pairam sobre nós e nos rondam e são nossos problemas de solução adiada porque inventamos o tempo como meio para resolvê-los.
O copo d’água e a chuva torrencial foram fatos imediatos. Ensinaram a verdade. O tempo do gesto, de nos encontrarmos, e de nos colocarmos em ordem diante de nós mesmos, é sempre o agora. Com a divisão de passado, presente e futuro, invenção nossa, o tempo nos engana. Existe o agora de cada átimo de segundo. Só esse tempo é real. É o tempo de ser o que somos.




Prof: Vicente Cascione

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