Mulheres de Athenas - Chico Buarque
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Mirem-se no exemplo
daquelas mulheres de Atenas.
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas. Quando amadas, se perfumam, se banham com leite, se arrumam suas melenas. Quando fustigadas, não choram. Se ajoelham, pedem, imploram mais duras penas. Cadenas. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas. Quando eles embarcam, soldados, elas tecem longos bordados, mil quarentenas. E quando eles voltam sedentos, querem arrancar violentos carícias plenas. Obscenas. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas. Quando eles se entopem de vinho, costumam buscar um carinho de outras falenas. Mas, no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas. Helenas. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas. Elas não têm gosto ou vontade nem defeito nem qualidade, têm medo apenas. Não têm sonhos, só têm presságios. O seu homem, mares, naufrágios, lindas sirenas. Morenas. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas. As jovens viúvas marcadas e as gestantes abandonadas não fazem cenas. Vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem às suas novenas. Serenas. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas. |
sábado, 28 de abril de 2012
Mulheres de Athenas
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