quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Um dia de sol para Uma Amiga muito especial- 'Maria de Lourdes Rodrigues de Souza'



O dia amanheceu lindo!
O Sol com seus raios  dourados e  cálidos chegou doirando tudo, envolvendo a tudo e a todos com essa energia especial que nos move com alegria  e esperança para mais um dia de labor.
De repente me vi pensando na Lourdes. Maria de Lourdes Rodrigues de Souza uma dessas pessoas especiais ensolarada, dinâmica, forte e alegre, que tem o dom de envolver a todos a sua volta.
Eu a conheci lá por volta dos anos 80 e está classificada como uma das minhas mestras com que a vi da me presenteou.
Foi ela uma das minhas mais importantes colegas de  profissão. Foi ela que com seu jeito  sereno e responsável que aprendi e descobri estar na profissão certa, a enfermagem. Lourdes não era diplomada por nenhuma faculdade, a não ser pela universidade da vida. E como era capaz! Era dessas com quem se aprende a cada dia, do jeito certo e jamais se esquece. Meu Deus como sou grata por ter conhecido pessoas assim!
É me fácil depois de  quase quatro décadas, recordar de seu jeitinho, seu caminhar com uma cuba rim ou uma bandeja de procedimentos nas mãos, pelos corredores da maternidade da Santa Casa de Ribeirão Preto, indo ou vindo atender a uma paciente, fosse da área particular ou do antigo INPS ou da área dos não contribuintes que naquela época era chamada de ”indigentes”, as quais eram tratadas por ela com o mesmo cuidado e carinho que as demais.
Lourdes era contudo enérgica e muito profissional; eu apenas uma aprendiz iniciante, cuja experiência  versava pelos três quatro anos de atendimento prático, após um rápido curso realizado sob os cuidados de uma irmãzinha de caridade que trabalhava no hospital Álvaro Ribeiro em Campinas, no ano em que ocorreu a epidemia de meningite, vitimando grande número de pessoas principalmente crianças.  Eu havia entrado naquela casa hospitalar, exatamente nesta época, e minha função era auxiliar nos banhos e dar alimentação aos pequenos pacientes. Porém eu queria , eu tinha muita sede de aprender, e não perdia nenhuma oportunidade. Tanto que percebendo meu interesse, a irmã responsável pelo setor, me encaminhou ao curso de Atendente de Enfermagem,  ministrado por elas mesmas, dentro da própria instituição. E como a epidemia lotava  o hospital, e a mão de obra  era insuficiente, acabei entrando na rotina de enfermagem  sob os cuidados da enfermeira chefe responsável. Não me recordo hoje o nome de ninguém. Depois disso, passei por outras instituições, sempre aprendendo tudo que me era possível, e estudando por conta os livros da época. Mas isso é para outra história, voltemos a Lourdes.
A empatia  que havia entre mim e Lourdes abriu portas para nos visitarmos em nossas casas, e pude lhe conhecer a família, formada por dois filhos Roberto e Claudia (se não me engano) as vezes faço confusão com nomes e números, coisas da idade. E também uma  linda neta, a Talita, que era o seu xodó.
Lourdes era viúva e conduzia a vida com um misto de energia  e serenidade  que me encantava. Tudo tinha seu tempo e lugar. As  complicações naturais eram resolvidas sem jamais perder o porte altaneiro e equilibrado. Nossa amizade nos permitiu trocar confidências e pude partilhar da intimidade do seu lar.
 Me sentia muito bem junta a ela e sua filha e a netinha. Quanto ao filho, o vi poucas vezes , Carlos Roberto.
Em sua casa me encantava um vaso de violetas que jamais vi igual; era plantado em um xaxim grande, e cresceu tomando todo o espaço, e quando florescia era uma maravilha. Assisti a sua luta para conseguir comprar sua casa, reforma-la e mobiliá-la como sonhou.  Em cada oportunidade eu ia aprendendo com suas experiências. O que fazer e o que não fazer. Falávamos muito sobre o trabalho, e ela me ensinava tudo quanto podia. Nesta época, tínhamos entre nós os estagiários do curso de medicina da USP, e tivemos a oportunidade de conviver com o então doutor Sócratis, meninão sempre com o sono atrasado e ténis “chulezento”, a doutora Analba, dra. Sueli, dr. Odilon. E inúmeros ‘doutores’ em fase de formação, passaram por ali na residência de obstetrícia e pediatria néo-natal. Muitas histórias! Algumas tristes, outras engraçadas, mas felizmente muitas felizes, como o nascimento do primeiro filho do doutor Marcelo, a primeira experiência com a circuncisão de um bebê, meninas que chegavam com quadro de abdome agudo e pariam diante de mães e pais estupefáctos, por não terem a menor ideia da gravidez da filha adolescente. Gêmeos surpresas, muitos abortos provocados, o que deixava a irmã Ana Maria do avesso e que a fazia claudicar pelos corredores amaldiçoando as infelizes mulheres, o que me causava estranho sentimento, misto de revolta e pena. Ela  chamava essas coitadas de “porcas”, e aquilo soava em meus ouvidos como espinhos lançados ao vento. A quantidade de parturientes que chegavam dando a luz, fato que me levou a fazer os primeiros partos, inclusive alguns no banheiro ou no chão da enfermaria do pré -parto. E isso acontecia, por razões como: Estar os estagiários ocupados com outras pacientes, gestantes que chegavam coroando, etc. perdi a conta de  quantas crianças peguei nessa situação. Tinha uma época do mês que o número de nascimentos duplicavam, e dizíamos que era efeito da mudança de lua. Verdade ou mito, o fato era a realidade que vivíamos todos os meses. Os bebês resolviam nascer todos ao mesmo tempo e num só hospital.
Quantas histórias!
Eu gostava muito de fazer plantões com a Lourdes, confiava nela, me sentia segura e aprendi muito.
Hoje, não sei se ela ainda está entre nós. Nesta época, beira o tempo de aposentar, para o que fazia muitos planos; tinha os cabelos encanecidos pelo tempo e pelas árduas lutas que a vida lhe reservara. Havia ficado viúva cedo, e segundo relatava, não tivera um casamento feliz; a não ser pelos filhos que amava muito e criara com pulso forte e muita disciplina. Isso já faz quase 4 décadas, portanto imagino que ela tivesse nessa época uns cinquenta anos ou mais , ou menos, então teria hoje uns 90 anos, se tiver por aqui.  E ‘pelo andar do bonde’, dificilmente nos veríamos novamente. Mas ela é uma dessas pessoa que imprimiu em minha vida de forma tão formidável, que jamais a esqueci, e de quem sempre me recordo, com esse misto de ternura e gratidão.
Onde quer que você esteja minha amiga Lourdes(ela fazia questão da pronúncia  e grafia corretas do “OUR”), onde quer que você se encontre hoje, envio-lhe o meu carinho mesclado de saudades e gratidão! A você, a nossa amizade, pelo seu carinho e generosidade para comigo, dedico essa manhã de Sol!









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