segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

(19°)A História de "Eva"- Sonhos

                            


Mulatíssima, Mulatíssima, 25/10/09.

          Que carta, mulher!
 Perdi o fôlego, como diz você. Uiái!
           De fato não temos como saber se a missão de Elias foi compulsória ou  não.  
De minha parte, eu só tenho a agradecer á Providência e ao meu pai, a oportunidade que me foi dada de voltar a este plano material, a este planeta,, para que meu espírito progredisse, se esclarecesse, e quem sabe possa contribuir para o esclarecimento e o progresso de outrem.
           Mulatinha, pedi lhe algum livro ou apostila (dada a sua condição de orientadora sobre a Filosofia Espírita) para que eu possa me orientar para poder esclarecer um espírito doente, habitante do corpo denso da filha de uma amiga minha. 
Esse espírito doente tem 30 anos terrestres e parece trazer seríssimos problemas de falta de vontade, fraca que se deixa dominar (escravizar é o termo correto) pelo vício das drogas químicas. 
Eu leio o que ela me escreve e morro de pena, Mulatinha, ao perceber o quanto ela está obssidiada pelos “trevosos” que lhe vampirizam a alma e o corpo. 
Ela perdeu o senso de realidade (conta-me os absurdos que faz para conseguir dinheiro para sustentar o vício e acha normal fazer esses absurdos –  depois em seus momentos de lucidez – quando volta para a cadeia - arrepende-se e chora).
Perdeu a dignidade,o amor próprio, os filhos (a justiça tomou-lhe a guarda), sabe, tem consciência de sua condição, tem sonhos, planos de vida (lindos, Mulatinhas), mas não tem forças para parar. 
Dá dó.
           Quando eu vi o tamanho do “B.O.”(problema) quis pular fora, mas me senti como um covarde que abandona quem lhe estende a mão pedindo socorro. 
Que Espírita serei eu se  fugir com essa facilidade dos obstáculos que Deus se me põe à frente? 
Fugir é fácil, enfrentar é que são elas.
            Mulatinha, voce é testemunha viva da minha covardia, sempre fugindo diante das dificuldades que a vida me reservou como provação para o meu fortalecimento. 
Tanto fugi, que a vida me cercou por todos os lados, até eu vir parar neste lugar onde , 
finalmente, quieto, pus-me a pensar, refletir sobre tudo que fiz. 
Minha amiga, desde que caí preso, nunca me abandonou. Por ter também, passado pelo sistema penitenciário por uso e tráfico de drogas (hoje ela está “limpa”_ há 10 anos sem uso_ e não deve mais nada à justiça).
 Ela sabe o inferno que é este lugar e o quanto uma cartinha, lembrando da gente, por exemplo, faz toda a diferença no “psicológico” e no espírito da gente. 
Nesses 5 anos que estou preso,, ela não falhou 1 mês sequer. 
Todo mês chega de  1 a 2  cartas dela para mim, com notícias da “terrinha”, dos meus amigos, fora citações e passagens bíblicas (ela é evangélica) que me levantou o moral.
Quando ela me pediu para dar a mesma assistência (que ela me deu durante 5 anos) á filha dela que havia sido presa e estava entrando em 'deprê' (por ela ser fraca de vontade e espírito), eu não tive como negar.
 Confesso que senti medo, querida. Era muita responsabilidade, e de responsabilidade eu vivi minha vida toda fugindo, né¿

Tá-tãm! Entra em cena a caneta escrevedeira...(Mudança de caneta e melhora da visibilidade)
Então Mulata, fiquei com medo e , confesso , foi só “turbulência” , Mulata. 
A garota era um poço de mentiras, engôdos, falsetas, que me fez perder a paciência várias vezes e dizer (escrever)  barbaridades a ela (voce conhece a navalha que tenho na lingua e que transporto para o bico da caneta, né¿ 
Ela respondia na maior humildade, dizendo que eu tinha razão e pedindo-me perdão e que não a abandonasse naquele lugar, que eu era o porto seguro dela, que havia aprendido e entendido muitas coisas comigo, coisas essas que ela não tinha nem noção. 
De repente, “peguei-me” tentando controlar-lhe os atos, as atitudes, e ela como um cordeirinho a me dar satisfações de seu atos, vai vendo a carência e fraqueza espiritual para se deixar dominar com tanta facilidade, Mulatinha. 
Mas em toda saída temporária ela  “desandava” de novo.  
Com direito a semiaberto e sem ter colônias para mandar presas que usufruem desse benefício (colônias superlotadas), os juízes mantêm-nas presas em cadeias de comarca e de lá elas saem para visitar parentes por  7 dias e depois voltam ao fechado. 
Em todas  as saídas, ela foi direto da rodoviária para as “baladas” sem sequer visitar filhos ou mãe. Consultei várias pessoas aqui na cadeia que só pararam com a droga (crack  a mesma dela) porque estão presos. 
Todos foram unânimes em dizer que o “arrastamento” é cruel e irresistível e que mulheres, até de famílias de classe média-alta se prostituem para conseguir dinheiro para a droga, uma vez que as famílias, cansadas de suas ”loucuras” e mentiras, as abandonam à própria sorte. Não é o caso da garota, pois sua mãe não a abandona (como ex-viciada, ela sabe o que é “arrastamento”, mas a garota desceu às mais baixas condições de prostituição para saciar seu vício. 
Quando volta para a cadeia e sua cabeça volta ao lugar, se arrepende e chora. 
Mas quando sai, não consegue resistir. E começa tudo de novo.
     Não é assustador? 
Eu tremi nas bases, mas consegui até agora, pelo menos fazê-la ver que não havia necessidade de mentir (odeio mentiras). 
Ela viciou-se em mentir para não ter que ouvir sermão de sua mãe, só que é um tanto quanto ingênua e por não ter muita noção de realidade (perdeu isso também) suas mentiras são superficiais, contraditórias, e eu repassei as histórias dela todinha só por esforço de raciocíinio, pegando a e analisando suas contradições.  
Ela dá-se por vencida, arreia a carga, tenta mentir de novo para safar-se, mas acaba capitulando, chora e pede perdão e que eu não a abandone.
Quase morro de dó depois, Mulatinha. 
Às vezes sou cruel com ela, e sua resposta é a maior humildade, a humildade de quem se reconheceu fraca e precisando de ajuda. 
Me corta o coração. 
Ela é muito inteligente e pega rápido o que lhe é ensinado, mas é fraca e sucumbe às tentações.  Interessou-se pela Filosofia  e é essa a razão do meu pedido. 
Percebi meu erro ao tratá-la assim, quando li “Compreensão e Tolerância do Evangelho Segundo o Espiritismo e quase morri de vergonha.
Ela já não me mente mais, pois eu a fiz compreender que, se ela mente, a única prejudicada é ela mesma, pois tudo que lhe passo de fortalecimento, em palavras, é baseado no que ela me diz, ou seja, se ela mente, a base que eu tenho para raciocinar é a mentira e, consequentemente, mentirosa (ou distorcida) será a minha resposta á ela. Já é um avanço. 
Aos poucos quero (pretendo pelo menos) faze-la “enxergar” os absurdos que fala e faz, e com isso, aos poucos ajuda-la a resgatar seus dons perdidos:vergonha, brio, dignidade, lealdade, delicadeza ( a vida embruteceu-a animalizou-a, no sentido de perda do senso de humanidade), perda do egoísmo , da luxúria e recuperação dos seus filhos, de sua família, de sua vida. 
Sei que a empreitada é meio utópica, que sem um tratamento clínico, de desintoxicação em clínica especializada isso será extremamente difícil, senão impossível, tenho noção disso, mas não serei eu se pelo menos não tentar, entendeu¿
Alguma luz eu hei de por naquela cabecinha oca, o que  já será um progresso, mínimo, mas um progresso. 
No fundo, no fundo, Mulatinha, eu também estou exorcizando meus demônios, meus fantasmas, por todas as vezes em que fugi da raia.  
Dor de consciência, mulher, dor de consciência. 
E olha o tamanho da “responsa” que Deus botou em meu caminho para meu próprio resgate. Sem contar que eu devo esse favor à mãe dela, né? 
 Seria fácil para mim falar: 
_“Ah! Eu quero é que vá à merda, vou cuidar é de mim". 
Falei isso várias vezes ,Mulata,  e me arrependi todas essas vezes, sem exceção, eu lia ou ouvia alguma coisa que me aguilhoava a consciência e me enchia os olhos de  “estrelas” (água).
Quer um exemplo?  
Certa vez, depois que ela voltou da saída temporária, e já sabendo que ela tinha “desandado” de novo, eu lhe escrevi, dando-lhe um “puxão de orelhas” daqueles e sem avisa-la, pensei em também abandona-la à própria sorte e que fosse à merda. 
Resolvi ler o Evangelho de Kardec para aliviar a raiva (por falar, falar, escrever o , né¿ - no caso) e por não ver resultado nenhum (veja a minha pretensão, querer mudar algo que está  enraizado tão profundamente nas entranhas de seu espírito com algumas poucas palavras bonitas).
 Então, como eu disse,, abri o Evangelho, a esmo, para ler o que primeiro meus olhos caíssem em cima; Sabe o que deu?
 -“É permitido repreender os outros?
Notar suas imperfeições e  divulgar o mal alheio?” pág. 137. 
Pode?
 Daí eu li tudo e não gostei; pois ainda estava com raiva, mas com o “titânio” já meio amolecido. Resolvi abrir, em seguida, um outro trecho do livro (sempre o mesmo). 
Sabe o que deu?
 “A Paciência” pág. 123, de um “espírito amigo”. 
Onde tem um trecho que diz que, a caridade de dar esmolas, é a mais fácil de todas, porém a mais penosa e consequentemente, a mais meritória, é a de “perdoar os que Deus colocou em nosso caminho, para serem os instrumentos de nossos sofrimentos e submeterem à prova a nossa paciência.” Daí aguou os olhos, precisa falar mais?
 Achei que era coincidência de mais Mulata. 
Escrevi  uma carta carinhosa e compreensiva (depois do “bomba) e a resposta foi só perdão e humildade, dizendo-me para não ficar com remorsos pois ela não tinha nada para me perdoar. (e olha que eu a ofendi, Mulatinha, que Deus me perdoe, mas comparei-a até com o lixo que ela fumava, tamanha foi minha raiva, você sabe como é que eu sou de “grosso” nessas horas, né¿)e a resposta foi só perdão e humildade. 
Chorei. Embora toda a deficiência de vontade, o espírito dela é maior, e melhor  do que o meu quando se trata de perdão e humildade. 
Quase morri de vergonha. 
Ela acabou me consolando em vez de eu a ela. 
É mole?

 Certa vez no “proseiro” dentro da minha cabeça, eu disse que não fui eu quem pedi essa “provação”. 
A resposta: Foi sim!  
E eu (querendo fugir da “responsa”, mais uma vez na vida): 
_Mas porquê eu pedi?
 E a resposta:_ “Porque “ela “ é sua! 
E eu, de novo: 
_Minha o que? 
E a resposta; 
_“SUA”! 
E lá no fundo quase apagado: 
_Foi o que voce pediu! 
Daí me eu me arrepiei. 
Ah! Eu tô louco, depois que comecei  com essa história de espiritismo, eu estou vendo “espírito” em tudo, eu hein?

   Sabe, Mulatinha, quando eu “ouvi” a resposta “Porque ela é sua”, eu entendi como “sua responsabilidade”, porque, junto com essa resposta, me veio {a tela da memória, várias situações em que eu me omiti em minhas responsabilidades: 
A noiva que eu abandonei (sem avisar, sem nada, simplesmente  sumi sem dar satisfação) quando eu a conheci na 'Regispuma', Mulatinha, você já pensou o que significou para essa garota de apenas 18 anos, cheia de sonhos, ilusões, o sumiço, sem mais aquela, do “homem” da sua vida, o primeiro a quem ela se “entregou” e do qual ficou noiva de aliança no dedo, e que desapareceu sem a menor explicação e sem nenhum motivo aparente? 

Passou pela minha cabeça o nenê que eu deixei (por omissão) a Celina tirar numa clinica clandestina em S. Paulo e que depois quase morri de remorso; passou na “tela” todas as mulheres que se apaixonaram por mim e que eu acabei abandonando sem a menos satisfação  e sem o menor escrúpulo.
Passou na “tela” as filhas que tive com outras mulheres e que nunca me esforcei em conhecer, sempre com o maldito medo da responsabilidade.

Passou na  “tela” o abandono que releguei você e o “Tambor” em Curitiba, sem sequer, pensar na dor que eu estava lhes causando com minha atitude e dentre tantos outros “filmes” na “tela” me veio, nítida (veja você) a piadinha do sujeito que no telhado de uma casa, numa tremenda inundação, recusou a ajuda de um bote, de uma jet-ski, dos bombeiros, de uma boia e até mesmo de um helicóptero, com a convicção de que Deus o salvaria em pessoa e nessa convicção morreu afogado. Chegou ao céu brabo com Deus e disse: Poxa, Senhor, eu tive tanta fé que o Senhor me salvaria e aqui estou, morto! Porque me abandonaste¿ ao que Deus lhe respondeu: 
_Filho, como podes dizer que te abandonei quando te mandei uma boia para te apoiares, um barco par te tirar de lá, um jet-ski para levar-te a lugar seguro, bombeiros para te resgatar e até mesmo um helicóptero para ti içar e te levar pelos ares?
 E que fizeste? 
 A todas essas ajudas que eu te enviei tu te recusaste a recebe-las. 
Que querias que eu fizesse a não ser trazer-te até aqui e carregar-te ao colo?
E o homem baixou a cabeça e chorou, pois recusou-se a ver os sinais que a vida lhe deu.

Entendeu Mulata? Eu fiquei com a mesma sensação desse homem.
Deus me pôs à frente todas as provações e sofrimentos e dores que eu precisava para me fortalecer e que fiz eu¿
Desviei de todas elas, de tudo, até a vida me cercar de grades e concreto para que imobilizado, e sem ter para onde fugir, eu parasse e refletisse. 
E me deu um problema enorme para resolver e soube como me amarrar. 
Deixa que os “trevosos” me incitem a ter ódio, até dessa criatura que não é mais responsável por seus atos, pois que escravizada por sua própria vontade ( ou falta dela) mas ao mesmo tempo me enchendo o coração de remorso, ternura, piedade e um amor quase paternal, por alguém (independente do fato de ser mulher e talvez esse detalhe _ ser mulher_ tivesse sido usado até de propósito, dado o fato de que minhas “fugas” de responsabilidade se deram SEMPRE com o elemento feminino, né¿), então, como eu dizia : às vezes tinha raiva de suas atitudes e depois esses “acessos” eram substituídos por um profundo carinho e dó. 

Eu vi a mãe dela grávida dela, conheci-a menina brincando de boneca, depois a vi adulta em 2002 na casa de sua mãe já “desandada” (eu não sabia disso) e cheia de tatuagens, o que me causou aversão em primeira instância e depois admiração pois conversava bem e era super educada e meiga em contraste com as feias tatuagens. 
Como a mãe dela, E nunca mais a vi. Foi só uma vez e me impressionou  a energia (sempre a energia, Mulatinha) estranha que vinha dela.

_Em tempo: Não estou apaixonado não viu Mulata, cheguei a pensar nisso e depois de analisar tudo, friamente, vi que não era isso, era algo mais profundo que isso, mas que não era de agora.

Fiquei surpreso quando certa vez recebi uma carta dela que dizia:
“Sabe, Gê, naquele dia que eu o vi, na casa da mamãe, eu tive a sensanção de conhecê-lo de a muito tempo já, e não é da minha infância, não.”
 Eu arrepiei, pois até então eu nunca havia tocado no assunto espiritismo com ela. 
Ela é católica.
 Mas me escreve frases, no meio das cartas, que me desconcertam. 
Tipo: “Deus me pôs no seu caminho, Gê, pra você cuidar de mim e pra eu “curar” você. 
Atente para a palavra “curar” na boca (ou caneta) de  quem não é espírita e nem sabe o que era isso.
 Estranho né?
Eu perguntei: Curar de quê? 
E a resposta foi: “Das suas loucuras”, e entre parênteses a palavra “risos”!
Claro que  me passou pela cabeça que foi a mãe dela que lhe contou sobre minhas “loucuras”, mas que a frase toda soou estranha, ah isso soou.
    
          Sonhei dois sonhos compridos ( com espaço de uns 2 meses entre um e outro) com ela e a mãe dela. Em ambos elas não eram mãe e filha e sim amigas. 
Não tenho lembranças de quase nada dos sonhos, de palavras, só de imagens. Eu as observava e elas tinham consciência da minha presença.
Num dos sonhos, ela era ruiva de olhos verdes como esmeralda (ela é meio alourada, de olhos castanhos-claros) e me disse um monte de impropérios, enlouquecida de ciúmes (veja você) e quase me agrediu. 
Quem a segurou? 
Sua amiga, hoje sua mãe. 
Eu a abandonei (já desde aquela época era medroso de responsabilidades). 
Era década de 30. Nasci em 54.
São só sonhos, eu sei. 
Mas Mulatinha, quando eu lhe pedi algo (estudos sobre energias, um dos motivos foi o seguinte: _ Cada vez que eu mandava a ela uma carta “puxando-lhe as orelhas”, eu “sentia”(não sei explicar-lhe como) quando ela recebia a carta, como se alguém me avisasse: recebeu!
Imediatamente, minha orelha esquerda incendiava-se como se eu sentisse que ela estava sentindo (aquele rubor, calor, sabe como?) pelas palavras, ás vezes, até ofensivas que eu lhe mandava (com raiva) e essa sensação ia e voltava, sempre com muita força, e só parava quando ela recebia outra carta minha mais 
“suave”. 
Daí a energia acabava. 
Que força, Mulatinha, que força! 
Chegava a incomodar-me a face esquerda “pegando fogo”, sem que a orelha nem a face estivessem vermelhas.
Porque só o lado esquerdo? 
O direito ficava normal. Era só a face esquerda e só a orelha esquerda. 
Mais nada.
Um jornalista de 52 anos, espírita, que tirou cadeia aqui no mesmo raio em que estou, disse-me que eram vibrações de baixa frequência que ela me enviava, e que eu a recebia porque também vibrava na mesma frequência. 
Eu não tinha lhe contado nada, mas ele perguntou se a imagem ou o pensamento de alguém me vinha á  cabeça nessas horas.
Eu disse que sim, e ele me disse que era essa pessoa que estava enviando essa energia toda.
Menina, que força!
Como o  calor de uma fornalha, e não é andropausa, não, viu¿ (rs).

      Por falar nisso, porque voce parou de me mandar aqueles prospectos?
 Não tem mais?
E o “Luciano” ? Conseguiu as informações que lhe pedi¿
Puxei, ou melhor, pedi para puxar meu extrato da VEC (pela visita de um companheiro) e deu lá: Meu pedido de semi  aberto foi deferido, ou seja, eu ganhei o S.A. 

Agora é só assinar e aguardar remoção para a colônia. Lá será mais fácil ganhar o meu R.A. ou L.C. o que trocando em miúdos, significa RUA com liberdade vigiada (Condicional).  Que tal minha letra¿ Horrível né¿ Tem dia que está assim, “ que dei bêu dariz”.

              Mulatinha, isso significa que “se um motivo de força maior NÃO impedir;” estarei aí, com vocês, neste natal, se Deus quiser.
Agora está tudo nos “conformes” . É só aguardar. Ufa!

Mulher,  mande-me mais estudos sobre energias que eu lhe pedi, e você estava mandando mais parou.
Faça-me esse favor, Mulatíssima.
          Quanto a sua curiosidade sobre a censura, é o seguinte: 
Há censura sim, tanto das cartas que saem como das que entram e o motivo é segurança. 
Não se esqueça que este é um presídio de  segurança máxima e a censura existe para impedir que algo que se diga por carta coloque em risco a unidade, os funcionários ou a própria população carcerário. 
É o trabalho deles. Só para isso. 
Fora isso não há porque impedir nada, pois a intimidade do preso,por exemplo, só ao preso interessa. 
Tem companheiro aqui que chega fazer amor por carta com suas parceiras. É normal na cadeia.

 E tolerado, pois uma grande maioria não tem visita íntima e precisa de uma “válvula” de escape, né” memo”. Daí... Revistas de mulher pelada “eles embaçam”, então sobra só as cartas.
O preso deita e rola com elas, entendeu?
Quanto a cola demasiada , credito isso a pressa e o que advém dela, “tendeu”?
          Nossa TV queimou, mas acho que já foi consertada e a semana que vem já desce para o raio, e para cá na cela.
É ruim sem “tela” pois é só concreto e grade. 
Eu ainda tenho o recurso da leitura, das escrivinhações de cartas, do violão, etc.. 
E os outros¿ Tem gente que é analfabeto.
         Amiga, querida, gosto de receber suas cartas “gordas”a que chamo de  “jornais” .
Escreva sempre assim, Ok? Jornais.
Escrevi sobre a “Eva”(“Eva”- fictício- é o nome da filha da minha amiga) de um fôlego só e percebi que só falei dela, né? 

 Está me preocupando e continuo com medo do tamanho da “responsa”.  Será mesmo provação?  
Deus queira que não, que seja só  “remorso” por outras desistências de responsabilidades.
Me escreva, por favor.
Fique com Deus.
                       Seu, sempre, amigo e irmãos                                                 


                                                                      

    (Porque a História de um homem, não pode terminar num túmulo frio e escuro)



Obs:* 'Eva' faleceu em consequência ao uso de 'crac' pouco tempo depois do próprio Germano,(em  10 de novembro de 2010) este por hemorragia e por consequência de uma úlcera no duodeno .

2 comentários:

Artes Ideias e Dicas disse...

Olá, não sei se a história é real ... mas existem na realidade histórias idênticas tudo por causa do horrível vicio da droga.Que Deus os proteja.

Mamuska Fomm disse...

A história é real sim, e descobri a pouco que essa moça morreu em consequencia ao uso de crack deixando uma filha adolescente para a mãe terminar de criar.