quarta-feira, 27 de novembro de 2013

(21°) “O Espelho tem três Faces”



                     



                         


                        Novembro 2009



“Sou um reflexo das minhas gerações passadas e a essência das que vêm depois de mim.”
                                                                                                   (Marta Kinne).

            Tenho cinquenta e um anos. A idade de minha mãe quando morreu. A idade da minha mãe quando morreu. Lembro-me claramente do seu último dia de vida. Era uma segunda-feira chuvosa e minha mãe não conseguia respirar.
_É flúido_ o médico disse_ Vamos extrair o líquido dos pulmões.
          Sentaram minha mãe na cama do hospital e introduziram uma longa agulha em suas costas. Tentaram repetidas vezes, mas não conseguiram retirar qualquer líquido. Nem aliviar  sua dor.
          Lembro das palavras desesperadas da minha mãe:_Não consigo respirar. Aumentem o oxigênio por favor.
          Mas aumentar o Oxigênio não ajudou. Seus pulmões, tomados pelo câncer, lutavam pelo ar. Minha mãe susurrou para mim suas últimas palavras;
_quero que seja bem rápido.
         Minha mãe devia ter envelhecido. Seu cabelo escuro, salpicado de cinza, devia ter se tornado branco, como neve. As linhas do rosto, delineadas pelos sorrisos, deviam ter se tornado rugas suaves. Seu caminhar rápido devia ter se tornado um andar mais lento, mais maduro.
         Minha mãe devia ter vivido para ver seus cinco netos crescerem. Para envolve-los com seu jeito de amar tão especial e ensinar-lhes coisas com sua sabedoria. Ela devia ter partilhado, mão na mão, ses anos dourados com papai_ ela foi a única mulher a  quem ele  amou.
Mas nada disso aconteceu. Ela não estava mais aqui, nunca teve a oportunidade. Tinha cinquenta e um anos de idade e morreu.
         Eu tinha vinte e sete anos, então. Ao longo dos anos, nunca se passou um dia sem que eu pensasse em alguma coisa que quisesse lhe dizer, perguntar ou mostrar a ela.
Eu me revoltava contra a injustiça dessa situação.
Não era justo minha mãe ter morrido com cinquenta e um anos.
         Agora sou eu que tenho cinquenta e um anos. Olho no espelho e me espanto: Sofri transformações lentas, mas inegáveis. Ali está ela com seu cabelo salpicado de cinza, os olhos escuras e intensos, aquela expressão no meu rosto. Quando ouço minha voz, é a voz dela.
Eu me tornei minha mãe.
         Estou entrando num novo e estranho estágio da vida. Eu sempre olhei adiante para ver minha mãe. Num instante cheguei perto dela. Agora estou começando a ficar mais velha que minha mãe. A direção em que eu olhava para vê-la vai mudar. Em breve terei de olhar para trás.
        Aos poucos minha mãe vai se tornar mais jovem em comparação a mim. No lugar dela, quem vai ficar velha sou eu _ sou eu quem vai ficar com a cabeça branquinha, do jeito que ela devia ter ficado.
Quem vai ficar com aquele modo de andar mais maduro, quem vai ver as rugas suaves que ela nunca viu. E isso vai continuar até o dia em eu tiver setenta e cinco anos, a idade que ela teria hoje.Nesse dia, completada  a inversão de papeis, eu me virarei para ela a fim de olha-la, mas verei, no seu lugar, minha própria filha, com cinquenta e um anos. _ Minha mãe.

                                                                                  Com carinho _
                                                                                                    
                                                                                     
                                                                                                           
*Esse texto é de Kristina Cliff evans. Foi extraído do livro “História para aquecer o coração _das mulheres” Lindo né¿ Como a sua sensibilidade. Espero que goste.
Quando li, lembrei-me de você.
Não poderia deixar de enviar-lhe.
Não dá vontade de chorar¿.


 





    (Porque a História de um homem, não pode terminar num túmulo frio e escuro)


Um comentário:

Ana Brito disse...

Seu blog está ok Eunice,mas se vc puder colocar um banner das BUs mais atual é bom!Bjo!